Na delação
premiada feita ao Ministério Público Estadual (MPE), sobre um esquema que teria
desviado mais de R$ 9 milhões da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, o
advogado Joaquim Fábio Mielli Camargo afirmou que o ex-deputado José Riva (PSD)
concordou em pagar, em 2014, os valores devidos ao banco HSBC.
Mas, sob uma condição: de que a metade do valor retornasse a ele, por meio de depósitos em várias contas de empresas que ele indicasse.
Mas, sob uma condição: de que a metade do valor retornasse a ele, por meio de depósitos em várias contas de empresas que ele indicasse.
Segundo o advogado, cuja delação foi usada como
base para a deflagração da "Operação Ventríloquo", do Gaeco, a
tratativa foi feita por meio do também advogado Julio Cesar Domingues
Rodrigues, suposto lobbysta com forte influência no Governo do Estado e na Assembleia
Legislativa.
Joaquim Camargo relatou que foi procurado por Julio Cesar, em 2012, e que este lhe garantiu a possibilidade de ajudar a firmar um acordo sobre a demanda judicial do HSBC contra a Assembleia.
Eles então teriam se reunido, no início de 2014, com Riva e com o então secretário de Finanças da Assembleia, Luiz Márcio Pommot.
Ao MPE ele fez o seguinte relato: “Que José Geraldo Riva afirmou que eles estariam dispostos a firmar o acordo com o pagamento da importância total da dívida, em três parcelas mensais e consecutivas, mas que 50% de tudo que fosse pago pela Assembleia deveria ser repassado de maneira clandestina a pessoas que seriam indicadas pelo próprio José Geraldo Riva através do Luiz Márcio e Júlio César”.
O advogado, que
defendia o HSBC, relatou que aceitou a proposta, pois poderia passar apenas uma
parte do valor devido ao banco, uma vez que a instituição bancária permitia que
ele fizesse descontos nesse tipo de acordo.
Para que o
pagamento fosse viabilizado, Riva teria adiantado, na reunião, que o procurador
jurídico da Assembleia, Anderson Godoi, agilizaria as assinaturas da petição de
acordo.
“Neste período,
José Geraldo Riva não era o presidente da Assembleia, mas senti que era ele
quem mandava nos acordos e pagamentos. Me recordo perfeitamente que ao sair da
sala do deputado, Riva lhe deu três tapinhas nas costas e disse 1foi bom fazer
negócio com o senhor e tenho certeza absoluta que no futuro faremos mais
negócios1'", disse o advogado, na delação.
Contas indicadas
No pagamento da
primeira parcela, de R$ 3 milhões, em fevereiro de 2014, o delator disse ao
Gaeco que recebeu do advogado Julio Cesar e de Marcio Pommot as listas das
contas às quais deveria direcionar metade dos valores.
“Júlio César, no
primeiro pagamento, o acompanhou até o banco para a realização dos depósitos.
Os pagamentos foram feitos de maneira pulverizada, e quando a quantia a ser
depositada era muito vultosa, pedia que fossem feitos mais cheques de menor
valor”, afirmou.
O mesmo ocorreu,
segundo ele, no pagamento das outras duas parcelas de R$ 3 milhões, em que
metade do valor deveria retornar ao então deputado - assim como nos R$ 447 mil
pagos pela Assembleia, a título de correção monetária da dívida.
A intenção do
advogado do HSBC, conforme o próprio relatou ao Gaeco, era mentir ao banco,
dizendo que havia recebido R$ 2 milhões, ou R$ 2,5 milhões, no acordo com a
Assembleia, no intuito de não levantar suspeitas sobre o desvio.
Desentendimento e
capangas
Segundo o
delator, o esquema começou a gerar problemas em razão da insatisfação do
advogado Julio Cesar, sobre a quantia a ser recebida por ele colaborar com o
esquema: R$ 340 mil.
O suposto
lobbysta, então, teria passado a ameaçar o advogado Joaquim Camargo,
responsável pelos repasses, exigindo uma fatia maior do dinheiro que Riva teria
lhe prometido.
Joaquim Camargo
disse ao Gaeco que Julio Cesar chegou a adentrar em seu escritório com
“capangas” para amedronta-lo - e ameaçou relatar o esquema ao HSBC, caso não
recebesse o valor prometido.
A ameaça se
concretizou: segundo a delação, Júlio César foi à sede do banco, em Curitiba, e
avisou que Joaquim Camargo havia mentido sobre o acordo realizado com a
Assembleia.
Em razão disso,
Riva teria realizado uma reunião com Joaquim Camargo, o procurador jurídico
Anderson Godoy e um dos diretores do HSBC – que seria amigo do deputado.
Na reunião, o
político teria negado conhecimento sobre o esquema e usado como argumento o
fato de não ter assinado o processo administrativo, pois estava afastado da presidência
da Assembleia - os pagamentos foram autorizados pelos deputados Romoaldo Júnior
(PMDB) e Mauro Savi (PR), então presidente e primeiro-secretário,
respectivamente.
O caso levou o
HSBC a ingressar com um pedido de inquérito contra Joaquim Camargo, que ainda
tramita na Justiça Estadual, além de uma representação na Ordem dos Advogados
do Brasil em Mato Grosso.
A operação
A Operação
Ventríloquo foi deflagrada pelo Gaeco na manhã de quarta-feira (1º) e culminou
na prisão preventiva do ex-deputado José Riva (que já teve a soltura decretada
pelo STF), do ex-secretário de Finanças da AL-MT, Luiz Márcio Pommot e do
advogado Julio Cesar Domingues Rodrigues.
Segundo o Gaeco,
eles teriam promovido o desvio de aproximadamente R$ 10 milhões dos cofres da
Assembleia Legislativo.
O Gaeco destacou
que Riva cometeu os crimes mesmo tendo ciência de que estava sendo investigado
pela Polícia Federal, Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual,
na Operação Ararath.
Ainda durante a
operação, o Gaeco também conduziu 14 pessoas a prestarem esclarecimentos sobre
o suposto desvio, entre elas o ex-procurador da AL-MT Anderson Godoi. LUCAS RODRIGUES
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