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Síndrome de Estocolmo e o domínio espoliador

Síndrome de Estocolmo e o domínio espoliador


Por Dorjival Silva

No dia 23 de Agosto de 1973, três mulheres e um homem ficaram seis dias reféns de bandidos, em um assalto a banco na Suécia, Estocolmo para ser mais preciso. Para a surpresa de todos, eles desenvolveram uma relação de apreço e até admiração aos bandidos.

Desde então, chama-se Síndrome de Estocolmo, do ponto de vista científico, essa dependência que se forma entre vítimas e algozes. A ciência tem aprofundado estudos sobre essa patologia, existindo uma série de episódios, nos mais variados endereços mundiais, atestando a repetição do que ocorreu em Estocolmo.

A afinidade entre vítimas e verdugo, no fundo não é algo isolado e se manifesta em outros quadrantes da vida, na história e no mundo como um todo. Na política, se observamos atentamente o comportamento da massa e de vários indivíduos, é fácil constatar que o processo de envolvimento é parecido.

Os espoliados terminam protegendo e admirando muitos dos saqueadores, em boa parte dos casos sem a devida capacidade de medir o que está ocorrendo. Segundo os estudiosos, a vítima ao se amparar em quem a molesta, liga um instrumento de autodefesa fora do plano da consciência.

Trata-se de um escudo da mente à violência traumática. Há uma enorme semelhança entre o estado psicológico de quem revela sinais da Síndrome de Estocolmo, com o povo famélico que exulta seu líder e opressor político.

Nos dois universos, temos um afastamento emocional da realidade de dor, substituída pela crença abstrata de que o delinquente (ou político) no fundo o protege e aspira seu bem. Esse modelo multissecular que ancorou no Brasil com os colonizadores portugueses, transformando gente em números, multiplicando riquezas e reduzindo oportunidades à maioria, perpetua um sistema predatório.

O poder estatal ou plutocrata, segura sua hegemonia escravizando e vendendo a imagem de bom mocismo, no que se convencionou chamar ´modernamente` de filantropia. No fundo, altruísmo pré-fabricado. Pi-lan-tro-pia. Sem aspas mesmo.

O papel social virou princípio e prioridade, nos discursos e nos textos oficiais, mas funciona apenas como propaganda enganosa e cortina a esconder, na coxia, uma horda e seus procedimentos sórdidos. Veja-se aí os exemplos numerosos de fundações, ONG´s etc, metidas em falcatruas, desvios de finalidade e furto de bilhões do contribuinte.

Ser solidário com dinheiro público, gerado pelo próprio indivíduo necessitado, não pode ser catalogado como benemerência. É apenas mais uma espécie de canalhice, que transforma o pobre em devedor, agradecido a Deus e curvado diante de quem lhe explora e o faz de besta.

O cidadão desinformado e dependente, é programado para continuar assim, de modo a ser uma presa mais fácil à catequese. Entre o político esperto, populista, e sua vítima, se constrói a partir das artimanhas do primeiro, essa fria reprodução da Síndrome de Estocolmo.

O populismo laboratorial que se instalou há décadas no país, a partir da invenção do Estado Novo e seu tutor, Getúlio Vargas, gera mitos em cima da desgraça alheia. É uma questão de tempo, grandes recursos financeiros e marketing, transformar figuras obtusas e medíocres em arremedos de mitos.

O grau de insanidade que se estabelece, fermenta lideranças com pés de barro e cabeça de hidra, adorados por suas vítimas entorpecidas pelo sofrimento. É bom que se diga: o quadro de dependência e louvação a quem o flagela, não é um distúrbio particular da sociedade brasileira. É da condição humana.

Ao longo do mapa do tempo, nas mais variadas civilizações, o sacrifício virou oferenda por inspiração mística ou por resignação do oprimido.

No império Inca de Atahualpa, as belas ninfas eram preparadas e entregues por seus pais para o martírio, numa imolação coberta de alegria; no Iraque desfigurado, o ditador sanguinário Saddam Hussein ganhou status de mártir; os kamikazes japoneses se atiravam à morte brindando antes ao imperador Hirohito; seguidores de Juan Perón até hoje se flagelam em sua memória na Argentina e, por aqui, os donos do poder garantem a fome para manter vivo o pedinte.

Deus nos poupe da Síndrome de Estocolmo e mais ainda do domínio do espoliador.

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