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Ética, e todos nós

Outro dia assisti, em Cuiabá, a uma palestra do jornalista Alexandre Garcia, promovida pelo Instituto Euvaldo Lodi, da Fiemt, onde, entre outras coisas, ele abordou a ética que está se construindo no país, à margem do Estado, pelo exclusivo esforço da sociedade.

Ele recordou que a partir do Plano Real, com o resgate do valor da moeda, estabilizaram-se muitas outras referências éticas no país. Depois, com os efeitos acumulados sobre o Código do Consumidor, o Brasil viu nascer uma ética ainda frágil, mas persistente.

O leitor deve estar perguntando o porquê dessa conversa. Na verdade, quero abordar a decisão do Supremo Tribunal Federal de autorizar a abertura de processos contra 40 pessoas exaustivamente investigadas por participação no esquema do mensalão, descoberto em 2005.

O país inteiro está louvando o STF pelo ineditismo de acatar denúncias contra parlamentares, coisa que nunca fez na sua história. Acatou, também, denúncias contra figurões do governo, do PT que governa o país, contra banqueiros e figuras acessórias. De fato, o tribunal merece reconhecimento. Mas é só!Não fez mais do que a sua obrigação.

E os cidadãos não devem se animar muito, porque o mesmo tribunal já avisou que os processos não serão julgados antes de cinco anos. O próprio relator, admite que poderá demorar até dez anos. Imagine daqui a dez anos, caquético e careca, o ex-ministro José Dirceu, como todos os demais, não fará o menor sentido para a sociedade futura e, tampouco, para os então ministros do Supremo Tribunal.

Tudo isso que hoje parece importante, será, no máximo, uma lembrança burocrática ruim de um país antigo, sem regras e sem interesse algum para quem viver em 2017.Contudo, o ineditismo certamente trará mais uma dose homeopática de ética para a sociedade brasileira, na medida em que os cidadãos apontados não poderão mais tirar um atestado de boa conduta, sem que nele conste que são réus de processo de corrupção, de formação de quadrilha, de peculato e desvio de dinheiro público.

Mas é pouco, se não houver justiçamento sobre aquilo que se denunciou.A exposição de tantos nomes durante horas seguidas nas transmissões ao vivo da TV Justiça, foi, na realidade, a única chance de justiçamento que se verá com algum interesse social. Representou um linchamento moral que, apesar de fascista, é a única chance de justiça no Brasil quando se trata de alguém que, como dizia o compositor Luis Gonzaga “nunca vi na prisão quem tem mais de um vintém”. Todos possuem muitos vinténs.

O publicitário Duda Mendonça atreveu-se a proferir a palestra de abertura numa faculdade em São Paulo, na noite de terça-feira, data do veredicto do STF. Foi vaiado e xingado de ladrão. É sintomático.

A cultura da nova ética ainda está em construção, mas já distingue a justiça da verdade da justiça dos tribunais que adiam e adiam as conveniências dos recursos infinitos de julgamentos que se perderão na História, para quando já não significarem mais nada.

Mesmo assim, é muito animador que o Supremo Tribunal Federal tenha ouvido aquilo que o velho Ulysses Guimarães chamava de “ruído das ruas”, e julgado o que antes nunca julgara. Uma nova ética, uma nova ética social!

Onofre Ribeiro é articulista - onofreribeiro@terra.com.br

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