RAMON MONTEAGUDO
O governador Pedro Taques, que fez uma análise sobre os primeiros meses de gestão |
"Eu tenho vários defeitos e várias qualidades. Mas eu não sou
um homem cordial. Eu cobro. Eu critico. Eu leio tudo". A declaração é do
governador Pedro Taques (PDT), ao se referir ao nível de cobrança e da
dedicação que exige de sua equipe.
Há pouco mais de três meses no comando do Palácio Paiaguás, ele se
declara satisfeito com os ajustes e adequações feitas até agora. E vê com
otimismo as perspectivas de sua gestão.
"O Estado precisa passar por um choque de gestão. Fizemos
muito nesses dias para começar a organizar a máquina e governar o Estado. Muito
precisa ser feito, mas em 106 dias muito já foi feito", disse.
"Eu não caio nesse discurso fácil daqueles que exerceram o
poder por muito tempo nesse Estado, que querem que se resolva tudo rapidamente.
Eu não prometi isso na minha campanha"
Em uma entrevista exclusiva ao MidiaNews, em seu gabinete, Taques
fez um análise sobre as prioridades e metas do governo, falou sobre a
articulação política e o relacionamento com outros Poderes e sobre o que pensa
da percepção da opinião pública.
"Acho que todo político tem que ser criticado, a não ser que
seja ditador. Eu quero ser criticado", disse.
Confira os principais trechos da
entrevista:
MidiaNews – Após pouco mais de três meses de governo, o que o
senhor pode falar da experiência de governar o Mato Grosso?
Taques - É um orgulho ser mato-grossense e governador o Estado que
tanto amo. A cada dia que passa eu acordo e durmo mais motivado a trabalhar
bastante para que possamos superar nossas dificuldades. Estou muito otimista em
razão do que estamos fazendo.
MidiaNews – É mais difícil, mais complexo do que se imaginava?
Taques - Eu conhecia o problema. Na campanha, eu estudei muito o
Estado. Mas, por mais que eu conheça, agora eu estou vendo de outra
perspectiva. As dificuldades são gigantescas. O Estado precisa passar por um
choque de gestão. Aqui tinha falta de rotinas, falta de sistemas de processos.
Tenho 105 mil colaboradores; aqui não tinha controle. Infelizmente houve um
desmonte do Estado em razão destas práticas. Administrou-se cada secretaria
como uma ilha. Fizemos muito nesses dias para começar a organizar a máquina e
governar o Estado. Muito precisa ser feito, mas em 106 dias muito já foi feito.
MidiaNews – O senhor atribui esse desmonte a um processo mais
histórico, algo que vem se desdobrando nas últimas décadas, ou a algo mais
restrito à última gestão?
Taques – Mato Grosso tem momentos históricos. No final do governo
Dante, a casa estava arrumada. Com o governo Maggi, o primeiro mandato e metade
do segundo mandato do governo Maggi, tendo em conta aquela realidade, muitas
práticas foram criadas no Estado. Mas, nos últimos seis anos, houve um
desregramento de muitas dessas práticas.
MidiaNews – Em razão disso, quais são os desafios estratégicos?
Quais são os maiores gargalos?
Taques - Não tínhamos os levantamentos sobre os convênios aqui
existentes. Quais os convênios do Estado com a União? Agora temos. Estamos
recadastrando os servidores. Alguns não compareceram. Quanto o Estado paga de
dívidas? O seu Adelino, de Acorizal, sabe quantos quilos de arroz tem na
dispensa dele. No Estado de Mato Grosso não tinha esse controle. Estamos
levantando. Quando me perguntarem quantos policiais estão trabalhando no
município tal, eu vou saber. Hoje, em razão da transparência e da tecnologia, é
possível ter esses mecanismos. A vantagem é que vamos economizar, controlar a
corrupção e prestar um bom serviço para o Estado. Queremos fazer mais em menos
tempo - e fazer melhor. Para isso eu preciso conhecer o Estado.
Bruno Cidade/MidiaNews
MidiaNews – Em tese, é fazer o básico, não?
Taques – Temos que fazer o básico. Ao meu juízo, esse básico não
estava funcionando.
MidiaNews – Com esse trabalho que começou a desenvolver, espera-se
o início de um ciclo virtuoso. Quando a população deve começar a sentir esses
efeitos? É possível definir uma data?
Taques - Os efeitos da reforma já estão sendo sentidos desde o dia
2 de janeiro, quando editamos decretos cortando gastos. Eu não caio nesse
discurso fácil daqueles que exerceram o poder por muito tempo nesse Estado, que
querem que se resolva tudo rapidamente. Eu não prometi isso na minha campanha.
Meu compromisso com o eleitor está sendo saudado. Algumas pessoas falaram que
não arrumei estrada. Mas as estradas de Mato Grosso estão ruins pelos
incompetentes que aqui passaram. Prometer resolver isso em 106 dias seria uma
mentira. O eleitor consciente sabe que isso não é possível. Nestes 106 dias,
nós diminuímos o índice de homicídios em 39%. E isso não é pra qualquer Estado.
Se você pegar a Secretaria de Saúde, com o que encontramos de atraso, nós
regularizamos os pagamentos com os municípios, foram R$ 35 milhões. Com estes
dinheiro eu poderia fazer atividades novas, mas estou pagando dívidas do
passado. Em maio, nós vamos entregar remédio na casa do cidadão. Isso nunca
aconteceu em MT. Os hospitais regionais ainda não estão funcionando com a
qualidade que desejamos, ainda estamos discutindo o modelo de administração dos
hospitais com as categorias. Nós estamos contratando uma consultoria para a
Secretaria de Saúde. Porque, com a mudança da administração para as OSS
(Organizações Sociais de Saúde) houve um desmonte da secretaria. Isso não se
resolve em 106 dias.
MidiaNews – O que o senhor destacaria neste período?
Taques - Nesse tempo, fizemos 45 operações policiais. Na educação,
temos 748 escola, destas, eu já visitei 20. Em todos os municípios vou
conversar com professores e alunos e já resolvemos problemas simples. Por
exemplo, a escola Caíque, no bairro Pedra 90, em Cuiabá. Lá, precisa ser feito
outra escola. Nós estamos em tratativas com o Judiciário para que valores
judicias sejam destinados para construirmos, este semestre, uma outra escola.
Já iniciamos um grande debate sobre a mudança do sistema seriado para o
ciclado. Essa transição foi feita sem debate. Na educação paramos a contratação
de professores e economizamos quase R$ 120 milhões para reformar estas escolas.
Na parte da manhã eu administro o Estado. Ligando para os secretários, trago
secretários aqui. E, à tarde, eu recebo prefeitos e deputados. Todas as
secretarias têm acordos de resultados que estão sendo cumpridos.
MidiaNews – O senhor se considera muito rigoroso como gestor?
Cobra muito sua equipe?
"Hoje o primeiro Whatsapp que mandei para um secretário foi
às 5h40 da manhã. Eu critico. Eu leio tudo."
Taques – Eu tenho vários defeitos e várias qualidades, mas eu não
sou um homem cordial. Eu cobro. Hoje, o primeiro Whatsapp que mandei para um
secretário foi às 5h40 da manhã. Eu critico. Eu leio tudo. Está aqui na minha
mesa a revista que vamos publicar sobre os 100 primeiros dias. Eu reviso,
corrijo erro de português. É a minha foto que estava na urna.
MidiaNews – O senhor tem trabalhado em média quantas horas por
dia?
Taques – Tenho trabalhado em média 16 horas por dia. Foco total na
gestão do governo. Fizemos duas grandes reuniões com os prefeitos. Tenho prazer
de fazer isso. Algumas vezes, a família fala, reclama. Eu fico ligado o tempo
todo. Não desligo. Eu estou dormindo cerca de 4 horas por noite. Praticamente o
ritmo da campanha. Eu gosto muito de rua. Domingo passado eu fui pra feira do
CPA 2. Nesses 106 dias ficamos mais tempo aqui dentro do Palácio Paiaguás. A
partir de meados de abril vou viajar mais. Estamos trabalhando na busca de novos
financiamentos. Dinheiro novo para o Estado.
MidiaNews – Dinheiro novo de quais fontes? Internacionais?
Taques – Sim. Em maio é capaz que eu vá para Nova York e
Washington. Temos reuniões marcadas no Banco Mundial, no BID (Bando
Interamericano de Desenvolvimento), no CAF, em fundos. Temos que buscar
mecanismos para resolver nossos problemas. Estamos pensando uma nova forma de
tratar as rodovias de Mato Grosso. Temos 5 mil quilômetros de estradas
pavimentadas, 30 mil de estradas estaduais. Precisamos, no mínimo, de mais 10
mil quilômetros. Para isso, eu preciso de R$ 12 bilhões. Com o Fethab seriam
necessários 12 anos para eu ter isso.
MidiaNews – E como está a capacidade de endividamento de Mato
Grosso?
Taques – O Estado está em condições de endividamento. Você tem o
problema de ajuste fiscal e estamos trabalhando para ampliar. Precisamos de
1700 pontes, que são de madeiras e precisamos transformar em pontes de
concreto. Precisa reformar escolas. É muito dinheiro. Precisa buscar outros
modelos, quem sabe PPP (Parceria Público-Privada), concessões, fundos,
consórcios. A palavra é pensar grande. Nós precisamos resolver essa questão
para do desenvolvimento. Precisamos de hospitais regionais, precisamos de um
novo hospital regional no Vale do Araguaia, quem sabe em Porto Alegre do Norte.
Já foi prometido, em Tangará da Serra, na região Oeste. Só um hospital desses é
R$ 80 milhões, sem hotelaria, sem os equipamentos.
MidiaNews – A partir de quando a máquina vai estar organizada que
dê para a população sentir mais a mudança?
Taques – Eu acho assim, você precisa pensar sob duas lógicas. A
primeira, você precisa consertar o que foi feito de errado e precisa pensar no
futuro. Você não pode separar uma coisa da outra. Algumas pessoas, ouvi na
imprensa, dizem: “Ah, mas o Pedro está falando em auditoria... Não aguento mais
auditoria”. Aliás, eu fui eleito com 58% dos votos para isso. Quando eu fiz a
campanha, eu assumi um compromisso com o cidadão de fazer isso. Eu não vou me
separar desse compromisso, descumpri-lo. Quem tem medo de auditoria é quem não
está dormindo com medo de auditoria. E tem que continuar, sim, porque cada real
que eu economizo, eu aplico nessas demandas; sobra mais para investimento.
MidiaNews – O senhor disse que há pessoas com medo. Quem são essas
pessoas?
Bruno Cidade/MidiaNews
Taques - Estão com medo mesmo. Pessoas da administração passada.
MidiaNews – Em que fase estão essas auditorias?
Taques – Eu tenho 105 mil colaboradores, sou o “presidente da
empresa”, a maior empresa do Estado, e eu tenho 60 advogados. Tenho 60
auditores. É pouco demais. Escritório de pequeno para médio, em Cuiabá, tem 30
advogados. Aí eu preciso fazer concurso, não preciso?
MidiaNews – O senhor teme, ou tem receio de, em função dessa
dimensão da máquina, perder o controle, ficar à parte de tudo que está
acontecendo?
Taques – Não. Porque ninguém controla tudo. É impossível controlar
tudo. Eu não posso perder tempo com rame-rame. Cabe ao governador ficar
pensando macro, sem se esquecer do micro, porque os detalhes também contam.
Então, se nós tivéssemos os mecanismos que outros Estados já possuem... Uma
dona de casa sabe quantas latas de leite tem no seu depósito, quantos sacos de
lixo tem ali. Isso é normal, e nós precisamos saber disso.
MidiaNews – Nós sabemos que há estruturas viciadas, inclusive em
relação à corrupção. Como desarmar isso?
Taques – Concordo. Isso você precisa de tempo para resolver. Isso
só se resolve com transparência, com a imprensa fiscalizando, cobrando, com
formação continuada, com servidores com gestão. Isso só é controlado assim. Vai
acabar? Não vai acabar, né?
MidiaNews – O senhor acha que a opinião pública está entendendo,
está captando a dimensão do que o senhor está se propondo a fazer?
"Quem sugeriu que eu seria ditador foram alguns deputados,
que falaram que eu estaria governando por meio de decretos. Aí, nós publicamos
o número de decretos e virou uma piada"
Taques – Eu entendo que sim. E, aqueles que não estejam
entendendo, eu respeito. Acho que faz parte do jogo. Alguém tem que não
entender, tem que cobrar. Porque pensa diferente. E eu tenho que aceitar as
críticas e respeitá-las.
MidiaNews – O senhor acha que está sendo muito criticado?
Taques – Não. Acho que todo político tem que ser criticado, a não
ser que seja ditador.
MidiaNews – O senhor não é?
Taques – Criticado? Eu quero ser criticado.
MidiaNews – Não, estou perguntando se o senhor não é “ditador”,
como alguns sugerem?
Taques – Quem sugeriu que eu seria ditador foram alguns deputados,
que falaram que eu estaria governando por meio de decretos. Aí, nós publicamos
o número de decretos e virou uma piada, né. Virou uma piada. Antes de publicar
os decretos, pedi para o presidente da Assembleia conversar comigo, conversamos
sobre o projeto de lei que seria apresentado. Eu aqui, hoje, recebi 10
deputados estaduais. Todos os dias recebo deputados. Converso, recebo
prefeitos, independentemente de partido político.
MidiaNews – O senhor acha que há uma certa dificuldade de alguns
aceitarem o seu perfil, o seu estilo, que é um estilo muito proativo e
incisivo?
Taques – Exatamente. Vamos pegar o caso dos decretos. O número de
decretos que nós editamos é quatro vezes menor que os dos governos anteriores.
É 25% do que os outros editaram. Este é um ponto. E é necessário um decreto.
Quem regula o autogoverno é o Poder Executivo. Já no caso da verba
indenizatória da Assembleia Legislativa, por exemplo, quem regula é a própria
Assembleia. O problema é deles, o dinheiro é deles. Cabe à imprensa, ao
cidadão, me fiscalizar e fiscalziar outras instituições.
MidiaNews – Em relação à opinião pública, recentemente foi
divulgada uma pesquisa, feita pelo instituto Vetor, sobre a percepção dos
cuiabanos sobre a sua gestão. Entre outros dados, 20% dos entrevistados
disseram que “confiam totalmente” no senhor; 44% que confiam de “forma
parcial”; e 30% “não confiam”. Como o senhor analisa esses dados?
Taques – É bastante confiança, né? Se 64% da população confiam em
mim... Ninguém tem unanimidade, né? Eu me sinto honrado em ser lembrado como
uma pessoa confiável. E esses 30%, me sinto honrado também que eles não confiam
em mim; e é bom que assim, seja porque senão estaríamos em uma ditadura. Tem
que ter opinião contraria, né?
MidiaNews – O senhor não considera alto esse número de 44% que
“confiam de forma parcial”, e os 30% que disseram “não confiar”? Inclusive em
função da votação expressiva que o senhor recebeu na Capital?
Taques – Você acha que pouca gente confia em mim? Essa é a leitura
que você vê?
Bruno Cidade/MidiaNews
MidiaNews – Em termos, sim. A minha leitura é essa, sobretudo em
função da votação expressiva, como já disse, e do pouco tempo de governo.
Taques – Mas se você levantar os índices de outros políticos,
hoje, a situação é... Esses números são uma coisa absurda em termos de
confiança. O fenômeno político hoje, em razão dos acontecimentos históricos e
atuais, muitos colocam todos na mesma bacia. Isso aqui, se você colocar outros
políticos, sem qualquer pretensão, é um número exagerado de confiança.
MidiaNews – Mas estou dizendo isso, também, em função do senhor
não ser um político nos moldes ditos tradicionais.
Taques – Mas eu sou um político. As pessoas, hoje, desconfiam de
qualquer político. E têm que desconfiar.
MidiaNews – Outro tópico da pesquisa mostrou que 42% avaliam o seu
governo como “ótimo/ bom”; 29% como “regular”; e 20% como “ruim/péssimo”. Como
o senhor analisa esses dados?
Taques – Eu vejo isso como muito bom. É preciso dizer que 29% não
votaram em mim, por questões ideológicas, porque não vão com a minha cara. O
que é natural. Eu também não vou com a cara de todo mundo.
MidiaNews – É o tipo de resultado que não afeta o senhor de alguma
maneira?
Taques – Eu vejo essa medição como uma “fotografia” deste momento.
Mas eu prefiro analisar o “filme”, depois de um tempo. Como eu dizia, na
campanha eleitoral, a pesquisa reflete aquele momento. Se saiu uma notícia boa,
positiva, isso contamina. Nós sabemos como é a natureza humana. E outra coisa,
com esses escândalos da Petrobras, todo mundo fica mais crítico. Afeta o
resultado da pesquisa.
MidiaNews – Por falar em Petrobras, como está o relacionamento do
senhor com a presidente Dilma Rousseff (PT), cuja campanha à reeleição o senhor
não apoiou?
Taques – A relação está absolutamente republicana. Com todos os
ministros que eu já falei, fui muito bem recebido, sem nenhuma dificuldade. Eu
não tenho absolutamente nada do que reclamar desse atendimento. Nenhum.
"É preciso dizer que 29% não votaram em mim, por questões
ideológicas, porque não vão com a minha cara. O que é natural. Eu também não
vou com a cara de todo mundo"
MidiaNews – Houve comentários de que a posição do senhor, de
apoiar o então candidato Aécio Neves (PSDB), pudesse ser um problema para Mato
Grosso, em função de possíveis represálias da presidente.
Taques – Não vejo isso. Eu penso assim: uma pessoa que chega ao
cargo de presidente da República, de governador, não pode ter sentimentos
outros do que não ser trabalhar pelo Estado, pelo País. Eu acabei de receber
aqui o prefeito Tarcísio, de Brasnorte, do PSD. Ele não me apoiou lá. Era do
PT, foi para o PSD, e não me apoiou. E eu o recebi aqui e nem perguntei o
partido dele. Depois que ele estava saindo que ele me falou. Agradeceu o
atendimento e eu disse “não quero saber seu partido, o senhor é prefeito, tem
que ser bem tratado”. O tratamento que eu estou recebendo em Brasília é esse.
Só na semana passada, falei com o Armando Monteiro, ministro de Desenvolvimento,
com o Kassab, ministro de Cidades, com Jacques Wagner, ministro da Defesa, com
a Izabela, ministra do Meio Ambiente. Porque as pessoas lá, em Brasília, me
conhecem, em razão do meu cargo como procurador da República e, depois, como
senador. Então, isso facilita. Para se ter uma ideia, quando eu era senador, eu
não ficava visitando ministérios. Os ministros me ligavam: “Pô Pedro, você não
veio aqui”. Então, eu tenho essa relação lá. As pessoas sabem da minha atuação.
Eu não tenho nenhuma queixa com relação a mau atendimento. Agora, eu tenho
queixa em relação à falta de pagametno do FEX, tenho queixa em relaçao à
questão do Pró-concreto, que está em razão do ajuste fiscal e ainda não foi
liberado.
MidiaNews – O senhor já teve alguma conversa com a presidente
Dilma?
Taques – Sim, depois que fui eleito governador já conversei com
ela duas vezes ao telefone. Pessoalmente, não. Eu fui três vezes a Brasília.
Nesses 100 dias, eu me postei muito aqui. A partir de agora eu vou começar a ir
mais.
MidiaNews – O senhor considera importante um trabalho de
aproximação maior com a presidente Dilma Rousseff?
Taques – Não considero. E não vejo que eu precise de ninguém para
fazer isso. Quem é governador de Mato Grosso não precisa de ninguém para ser
intermediário. Acho que é bom, faz parte do espírito republicano você conversar
com as autoridades. O mesmo tratamento que ela tem me dado, eu tenho dado aos
prefeitos do PT, do PMDB. Beth Sabbath, prefeita de Rondolândia, eu recebi
aqui. Mercia, prefeita de Jauru, eu recebi aqui, com total respeito.
MidiaNews – O que o senhor pode falar sobre a saúde financeira do
estado? Qual o tamanho do déficit, a capacidade de investimento, quanto foi
arrecadado até agora? Fala-se em pouco mais R$ 3 bilhões nesses três meses.
Taques – Encontramos o Estado de Mato grosso com um déficit
orçamentário de quase R$ 2 bilhões. O que significa isso? Que precisamos
arrecadar mais R$ 2 bilhões para que possamos pagar as nossas contas de
custeio. E não estou falando de investimento, pessoal. Não; estou falando de
investimento. Então, nós precisamos aumentar a arrecadação. Melhorar a receita
para que possamos superar esse déficit. Encontramos o Estado com quase R$ 700
milhões de restos a pagar. Significam dívidas contraídas pela administração
passada. Não foi por mim. “Ah, mas foi pelo Estado de Mato Grosso”. Foi pelo
estado de Mato Grosso, mas um governo sério, decente, não deixa dívida pro
outro. Esse é o ponto. Disto aqui, destes restos a pagar, quase R$ 400 milhões
foram feitos nos últimos dois quadrimestres. E a Lei de Responsabilidade Fiscal
veda isso. Nós tivemos que repassar aos municípios aquilo que lhes são de
direito e estava atrasado há muito tempo. R$ 30 milhões eu falei da saúde, R$
35 milhões do Fethab e existem credores que o governo passado estava devendo há
10 meses, 15 meses. E agora nós estamos aqui, há três meses… Porque não
cobraram a administração passada também? Vamos pagar. O Estado tem que ser um
bom pagador, o Estado tem que ter credibilidade. Agora, eu só pago o que eu
devo. Só pago o que é correto. Não pago nada, nem um centavo, que não seja
devido porque este dinheiro não é meu.
Bruno Cidade/MidiaNews
MidiaNews – Esses R$ 400 milhões aos quais o senhor se referiu,
que foram gastos ao arrepio da Lei de Responsabilidade Fiscal, serão pagos?
Taques – Sim. Tem que ser pago. Se tem o direito, nós temos
cumprir a lei e pagar. Ninguém pode prestar um serviço, fornecer um bem ao
Estado e não receber. Tem que receber. Agora, vai receber nas condições que o
Estado pode pagar. Por que não cobrou no passado? Estão aí o decreto 53 e o
projeto de lei que nós apresentamos. São mecanismos totalmente legais, lícitos
e legítimos em uma administração. Esse decreto, por exemplo, o Rio de Janeiro
fez igualzinho e quem assinou lá o decreto foi secretário de Fazenda do Cabral,
Joaquim Levy, ministro da Fazenda. Igualzinho.
MidiaNews – O senhor definiu, por meio desse decreto, que pagará
as dívidas de até R$ 150 mil.
Taques – Sim. Por que isso? Porque, aí, nós vamos abarcar quase 80%
dessa dívida e estamos buscando construir com a Assembleia Legislativa para
pagarmos isso de acordo com o fluxo de caixa, em três meses para pagarmos. De
onde está vindo este dinheiro? Da arrecadação do Estado, da economia que
estamos fazendo. E vamos torcer para que o FEX venha, no final deste semestre,
que são R$ 400 milhões. E R$ 105 milhões, R$ 110 milhões vão para os
municípios. Porque eu paguei, recentemente, R$ 110 milhões para o Bank of
America. Você imagine, R$ 110 milhões para o Bank of America, R$ 35 milhões da
Saúde, R$ 30 milhões do Fethab... Já da quanto? R$ 175 milhões; sem contar o
que pagamos de outras dívidas. Se eu tivesse esses R$ 200 milhões para “fazer
bondade”... É muita coisa.
MidiaNews – Houve uma polêmica com o ex-governador Silval Barbosa
sobre essa questão do balanço financeiro, em que ele alega que deixou um
superávit em 2014.
Taques – Eu não vou bater boca com o ex-governador Silval Barbosa.
Mas eu confio na minha equipe econômica. O que nós encontramos no Estado, na
Fonte 100, foram R$ 84 mil. Eu mostrei. Não pode contar valores de outros
Poderes, nem verba de convênio que não pertencem ao Estado. Se tinha tanto
dinheiro, por que não pagou o atrasado? É maldade?
MidiaNews – E como está a capacidade de investimento do Estado?
"O Estado tem que ter credibilidade. Agora, eu só pago o que
eu devo. Só pago o que é correto. Não pago nada, nem um centavo, que não seja
devido porque este dinheiro não é meu"
Taques – Nossa capacidade de investimento, hoje, é reduzida. Por
isso estamos buscando o que estamos denominando de “dinheiro novo”. O que é?
Lembremos que o Dante vendeu o Bemat, a Cemat. Houve no Governo Federal a
questão da telefonia, lembra? Nós precisamos de PPP, concessões,
financiamentos. Nós estamos fazendo uma recuperação de ativos. Criamos o Cira,
que já temos bons resultados. É capaz que, neste mês já tenhamos bons
resultados. Nós estamos buscando fazer o levantamento do nosso crédito. Nós
temos R$ 14 bilhões de crédito na execução fiscal. Precisamos buscar isso aqui.
O governador do Rio, o Pezão, na semana passada, começou uma negociação para
vender esses créditos. Desses créditos, se tiver 20% de creditos ativos, bons,
é um volume, imagine, de R$ 3 bilhões. Qual é o patrimônio do Estado, o
patrimônio imobiliário, quanto vale? Nós estamos fazendo esse levantamento.
Imagine, o Estado deve ter uns R$ 50 bilhões de patrimônio imobiliário. Já foi
feito esse levantamento? Nós estamos fazendo. Para que o Estado precisa ter
terras, fazendas? Isso nós podemos fazer um leilão na bolsa.
MidiaNews – A Saúde é um dos maiores gargalos da administração
pública de Mato Grosso. Vários ex-governadores foram “derrotados” pelo nó do
setor e a situação se agravou. Como resolver esse grave problema?
Taques – A saúde em Mato Grosso tem um orçamento de quase R$ 1,4
bilhão. É o segundo maior orçamento do Estado; só perde para a educação. Se
você me perguntar: hoje, aos 106 dias de gestão, se a saúde vai bem, eu
respondo: ainda não vai bem. Nós ainda estamos trabalhando com uma consultoria
na secretaria, levantando processos. Quanto tempo demora para sair um contrato
para aquisição de remédio na farmácia de alto custo? Não pode demorar. Então,
estamos estabelecendo uma métrica. Quanto tempo demora para pagar um hospital?
Nós precisamos diminuir esse tempo, esse “gap”. Quantas pessoas existem na fila
da regulação? 39 mil pessoas. Mas tem pessoas desde 2002 na fila. Essa pessoa
está viva? Já morreu? Já resolveu? Esse controle não existe. Então, algumas
pessoas dizem que essa fila não tem essa quantidade de pessoas. Nós estamos
buscando organizar isso. Hoje na Escola de Governo, falei um pouco com os
servidores da Saúde, que estão fazendo preparação, qualificação para
aquisições. É diferenciada a aquisição na Saúde. São contratos altos, você tem
que fazer rápido, sob pena de dispensa de licitação, contratar de forma
emergencial. Para que resolvesse isso nós fomos ao Tribunal de Contas e
aceitamos a assinatuar de um TAG, Termo de Ajustamento de Gestão, para que nós
possamos estabelecer prazos e resolver isso. Precisamos tratar a Saúde não só
como “saúde curativa”. O Estado precisa repassar mais valores aos municípios
para atenção básica. Os municípios que têm maior cobertura do programa Saúde da
Família, de agentes comunitarios, você gasta menos com a saúde curativa. A
Saúde não é algo que vai ser consertado por um homem só, por uma pessoa só.
MidiaNews – E nem por uma gestão só, eu imagino. Recentemente o
senhor assinou um convênio para destinar R$ 50 milhões para o novo
Pronto-Socorro de Cuiabá. Esse novo PS resolverá o problema da Capital.
Taques – Nós assinamos com o Mauro Mendes a destinação desses R$
50 milhões para o hospital de Cuiabá e Pronto-Socorro. Estamos trabalhando no
Hospital Central, isso vai ser uma campanha que já está em andamento. Estamos
assinando com o Mauro Mendes um novo convênio para o Hospital São Benedito, que
vai ser inaugurado dia 30. O Estado vai participar do Hospital São Benedito.
Esses hospitais vão resolver o problema da saúde só de Cuiabá? Não, do Estado
todo. Se você for ao Pronto-Socorro de Cuiabá, hoje, deve ter umas 80 pessoas
na fila, na maca. Hoje. Eu tenho esse controle, estou começando a ter esse
controle. Nós precisamos fazer isso. Não é acabar com a fila, você não vai
acabar com a fila. Você vai diminuir o tempo nesta fila. Eu disse que vou
entregar até o dia 10 de maio, 10 mil remédios nas casas das pessoas. Isso já
foi feito em Mato Grosso? Nós, em uma parceria inédita com a Assembleia
Legislativa, tínhamos R$ 8 milhões para repassar por mês nesses três meses para
a Assembleia. São R$ 24 milhões e eles concordaram com a retenção de R$ 20
milhões - e vamos colocar mais R$ 20 milhões. São R$ 40 milhões. Uma parte nós
usaremos para comprar ambulâncias para os municípios. Aí, as pessoas dizem “ah,
é política de ambulância”. Não existe ambulância nos municípios. E vamos tentar
diminuir o tempo dessas pessoas nas filas até que nós tenhamos os hospitais.
Fizemos uma parceria com o Tribunal de Justiça. Eles nos repassarão R$ 20
milhões para que nós possamos construir 15 centros socioeducativo. Nós já
inauguramos o primeiro em Lucas do Rio Verde, de R$ 400 mil. Vamos fazer mais
15. Inauguramos recentemente um centro semiaberto para adolescentes infratores
que estava parado há seis anos. Tem muita coisa sendo feita. Voltando pra
saúde, ainda não está bom. Começamos a mudar. Agora, como eu posso pedir
paciência para o cidadão que está morrendo? Eu tenho que reconhecer que o
cidadão está correto. E eu reconheço. Cabe a mim reconhecer e trabalhar mais
para que nós possamos diminuir esse tempo para melhorar.
Bruno Cidade/MidiaNews
MidiaNews – A melhoria da situação da Saúde em Mato Grosso está
atrelada mais a uma questão de gerenciamento, ou o problema é a falta de recursos
financeiros?
Taques – Eu estou dando expediente - e é a primeira vez que eu
falo isso -, uma vez por semana, durante uma manhã, na Secretaria de Saúde. Uma
pergunta que nós fizemos é essa. Estamos discutindo isso, e o MBC, o Movimento
Brasil Competitivo, está nos ajudando nisso. Não é o dinheiro apenas, mas a
qualidade dos investimentos. É a gestão de como se gastar esse dinheiro. Não
adiante ter dinheiro e gastar mal. Imagine se o Estado tiver R$ 3 bilhões, como
você vai gastar isso? O problema é mais de gestão do que de dinheiro. A nossa
gestão está trabalhando firme nisso. Confiamos no secretário Marco Bertúlio,
que está com a sua equipe coesa. O Gabinete de Assuntos Estratégicos está lá
dentro, está em uma parceira porque não é uma obra para uma pessoa só.
MidiaNews – Recentemente o senador Wellington Fagundes fez uma
crítica, ainda que de maneira leve, e quase tímida, em relação ao seu
secretariado. Ele reconheceu que são pessoas bem intencionadas, com formação,
mas que não teriam um “know-how” mais político para fazer as coisas
acontecerem. Como o senhor vê esse tipo de crítica?
Taques – Eu concordo com o Wellington. Graças a Deus meus
secretários não têm o know-how político que, muitas vezes, ele quer desejar.
Por exemplo, Paulo Maluf tem um know-how político fantástico... Quem admirar
esse know-how do Paulo Maluf, fique à vontade.
MidiaNews – O senhor fez uma escolha muito pessoal, muito
particular em relação aos secretários. O senhor não permitiu ingerência
política.
Taques – Mas eu conversei com os deputados. Eles concordaram.
MidiaNews – Isso foi visto como a primeira promessa cumprida do
senhor. Está satisfeito com a equipe? Há secretários que precisam melhorar?
Está havendo o desempenho desejado e necessário?
Taques - Estou satisfeito com a equipe. Mas isso não significa que
não possamos melhorar. Todos nós, inclusive eu, precisamos melhorar muito para
que o cidadão possa ter as políticas públicas necessárias.
MidiaNews – Mas todos os secretários estão correspondendo à
expectativa, estão conseguindo dar conta da demanda?
Taques – Sim. Todos. Fizemos uma reunião, uns dias atrás, com
todos os secretários. Pedi que as famílias dos secretários viessem; as esposas,
esposos, filhos... E agradeci a eles pela colaboração. Não é fácil ser servidor
público, notadamente se você quiser fazer a coisa certa. Os secretários que
estão aí poderiam estar em outros lugares. E eles não vieram pedir emprego. Eu
que os convidei.
Sobre o ex-deputado Riva: "Uma pessoa que tem 180 processos,
160, não sei quantos, não querer ser preso é pedir muito a Deus, né"
MidiaNews – Do ponto de vista da remuneração, inclusive, não
parece ser nada interessante para alguns, não?
Taques – Nós todos estamos muito motivados para trabalhar pelo
estado. Tem muita coisa para fazer. Não temos que ficar dando desculpas, mas
resolver a situação.
MidiaNews – Há comentários sobre um suposto poder de influência do
senhor, uma certa ascendência, em relação aos outros Poderes, principalmente o
Judiciário. E também em relação ao Ministério Público. Falou-se, por exemplo,
que teria havido a participação do senhor na prisão do ex-deputado José Riva,
em um sábado, o que não é comum, e um dia antes de uma reportagem sobre
corrupção em Mato Grosso. Procede?
Taques – Uma pessoa que tem 180 processos, 160, não sei quantos,
não querer ser preso é pedir muito a Deus, né. Vejo esses comentários como um
desrespeito ao Poder Judiciário, ao Ministério Público do Estado de Mato
Grosso. Nunca fui ao desembargador Paulo da Cunha (presidente do TJ-MT), ou ao
procurador-geral de Justiça Paulo Prado pedir absolutamente nada. Aliás, fui
pedir sim, fui pedir ajuda naquele pacto por Mato Grosso. E nem eles me ligaram
para pedir nada também.
MidiaNews – Falamos sobre a prisão do ex-deputado José Riva, que
politicamente sempre foi um desafeto do senhor, e vice-versa. Como o senhor vê
a prisão dele?
Taques - Eu acho que a lei não pode ofender ninguém. A lei tem que
ser cumprida. Simplesmente isso. Nada pessoal.
MidiaNews – De alguma maneira lhe agrada vê-lo preso? Essa prisão
lhe traz uma certa satisfação?
Taques – Nós temos que entender que a maioria desses processos… Eu
nunca processei o deputado Riva. Eu não tenho nenhuma ação, como procurador da
República, em relação a ele. Começou lá atrás, na Arca de Noé, comigo, que era
um dos membros do Ministério Público. A lei tem que ser cumprida. Só isso.
Ninguém pode ficar impunemente para o resto da vida.
MidiaNews – O senhor acha que outros políticos, que recentemente
tiveram participação na vida pública, devem também ser punidos pelo mal feito?
Taques – Eu não conheço os processos. Não tenho tempo para ver os
processos de quem quer que seja. Eu penso que a lei tem que ser cumprida.
MidiaNews – Em relação a obras da Copa, por exemplo, precisa haver
punição?
Taques – Em relação às obras da Copa, o cidadão tem o direito,
primeiro, de ver as obras acabadas. Eu tenho a responsabilidade de terminar
essas obras. E as instituições estão funcionando, o Ministério Público está
funcionando.
Bruno Cidade/MidiaNews
MidiaNews – Além da ingerência, da má gestão, há suspeitas de
corrupção relacionadas à essas obras?
Taques – Isso quem tem que responder são os promotores e
procuradores da República. Eu vou à Secretaria de Segurança, converso
administrativamente, não pergunto sobre investigação. Vou ao Ministério Público
institucionalmente, não pergunto sobre nenhuma investigação. Não me cabe a isso
como chefe do Poder Executivo.
MidiaNews – O senhor está feliz, realizado, satisfeito como
governador de Mato Grosso?
Taques – Sim, bastante. Mas ainda quero ficar mais feliz, se eu
conseguir cumprir com todos os meus compromissos.
MidiaNews – O senhor pensa sobre seu futuro político? Em uma
projeção nacional, uma disputa à presidência da República, como já foi
ventilado?
Taques – Não, estou focado. Sou muito focado no que eu estou
fazendo. É lógico que eu penso estrategicamente, mas estou focado. Como
senador, tive uma certa projeção nacional. Nos quatro anos no Senado.
MidiaNews – Mas eu me referi à presidência da República.
Taques – Eu penso muito em terminar o meu mandato e colocar em
prática aquilo que propus nos meus programas eleitorais que, aliás, assisto no
celular, de vez em quando, para saber se estou cumprindo cada um dos
compromissos. Se eu fizer isso, está de bom tamanho.
FONTE: Mídia News
FONTE: Mídia News
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