Gabriele Schimanoski
A juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane Santos Arruda,
ouviu, na tarde desta quarta (22), as quatro primeiras testemunhas de acusação
do processo que levou o ex-presidente da Assembleia José Riva (PSD) à cadeia.
Entre as testemunhas estão Tatiana Laura da Silva Guedes, Edna Aparecida de
Matos, Aurea Maria de Alvarenga Gomes Nassarden e o empresário Júnior Mendonça,
que ficou conhecido como o “delator” da Operação Ararath, que apura esquemas de
lavagem de dinheiro e crimes financeiros no Estado. Além disso, o empresário também
cita o suposto esquema que envolvia Riva em fraudes no Legislativo, o que
desencadeou, por meio do MP, a Operação Imperador.
O primeiro a depor foi Júnior Mendonça, que a todo o momento
pareceu tranquilo e confortável com o interrogatório. Respondeu os
questionamentos de forma clara. As primeiras perguntas abordaram a relação dele
com Riva. O delator explicou que conheceu o ex-presidente da Assembleia por
meio de Eduardo Jacob, ex-advogado de Riva, já falecido. Destacou que o
primeiro contato foi em 2006, quando Jacob ligou para Mendonça informando que
Riva precisava de um empréstimo.
Segundo Mendonça, Riva foi o seu primeiro cliente no meio político
e que o primeiro empréstimo foi no valor de R$ 2 milhões. Como garantia, na
época, Riva passou sua residência no bairro Santa Rosa e uma carta promissória.
Conforme o empresário, os empréstimos foram crescendo e entre 2006 e 2010 Riva
chegou a movimentar R$ 10 milhões em empréstimos.
De acordo com o delator, Riva era sempre direto quando se
encontravam, tratavam apenas de negócios, ou seja, dinheiro. No entanto, quando
a relação começou a estremecer, Mendonça chegou a questioná-lo quanto à
destinação dos valores. Riva, por sua vez, alegava que era para abastecer o
“sistema”, composto por deputados e imprensa.
Mendonça conta ainda que todos estes valores eram repassados para
Riva por meio de cheques ou TEDs, sempre nominais a quem o ex-parlamentar lhe
passava. O social-democrata pagava o agiota sempre em espécie, por meio do
secretário Ademar Adams, que faleceu em outubro de 2010. Os pagamentos eram
feitos na Assembleia ou no escritório da Global em Várzea Grande, cujo um
motorista no carro do Legislativo levava o montante para Mendonça. Os débitos
eram feitos em parcelas de R$ 50 a R$ 250 mil. Após a morte de Adams, Mendonça
alega que passou a ter dificuldades para receber de Riva.
O empresário deixa claro ainda que o ex-deputado tinha a
necessidade de ser barrado, pois não conseguia liquidar a dívida, que hoje
chega a quase R$ 6 milhões. “Eu cobrava um juros de 3%, a nota promissória que
tenho hoje é R$ 5,7 milhões, que na verdade está em poder da Justiça. Só foram
pagas três parcelas de R$ 400 mil”.Além Riva, Mendonça emprestou dinheiro para outros
dois deputados na época, R$ 2 milhões para Sérgio Ricardo, hoje conselheiro do
TCE, e outros R$ 90 mil para Mauro Savi. O conselheiro quitou a dívida, já a de
Savi quem quitou foi Riva.
As outras testemunhas Tatiana Laura da Silva Guedes, Aurea Maria
de Alvarenga Gomes Nassarden, ex-mulher de Elias Nassardem e mulher de Jean
Carlos, irmão de Elias, respectivamente, alegaram desconhecer de possíveis
movimentações ilegais da Livropel, empresa as quais eram sócias. Ambas, contudo, afirmaram que o poder
aquisitivo dos respectivos citados melhorou após a empresa passar a fornecer
material para o Parlamento. Aurea inclusive chegou a reconhecer sua assinatura
em diversos documentos mostrado pela defesa de Riva, no entanto, alegou que
nunca esteve na Assembleia e que logo no início da empresa assinou uma
procuração, passando os plenos poderes a seu cunhado, Elias. Aurea argumentou
ainda que, em 2006, quando a empresa foi constituída, acreditava que deveria
ser em seu nome, pois o nome do conjugue estava com restrições.
Já a última testemunha, Edna Aparecida de Matos, analista contábil
do Ministério Público, foi incumbida de analisar a documentação relativa à
aquisição de material para a Assembleia. O que mais chamou a atenção, segundo
ela, foi a quantia exorbitante de materiais para escritório. Lembrou que
existem pedidos de 70 milhões de envelopes pardos e milhares de tonners e
cartuchos, quando na verdade, o Parlamento, dependendo da época, constava com
cerca de 140 a 160 impressoras, conforme inventário permanente.
A servidora ressaltou também que não foi apresentado nenhum
registro contábil das empresas citadas, bem como registro das movimentações
financeiras junto a Sefaz, tornando a operação ilegal. Amanhã (23) depõem
Wilson da Silva Oliveira, Augusto César Menezes e Silva, Arlindo Santos Macedo
e Evandro Ferraz Lesco.
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