A declaração de Elizabeth Taylor resume tudo o que se viu, o que se buscou e pensou sobre o fato: tudo se transformou em um circo. A cobertura do velório do reconhecido rei do pop, ontem, pela mídia internacional, enfatizou e focalizou o que quis dizer, verdadeiramente, Taylor. A morte se banalizou.
A vida perdeu o valor e parece que só se reconhece a grandeza de alguma coisa quando não se tem mais como agradecer. Por sinal, a gratidão não fez parte desse mundo louco vivido por Jackson. Veja o pai dele: um senhor tosco, rude e que deixou os filhos na mais profunda amargura, sem amor, em troca de algo que se transformaria em circo.
O espetáculo de ontem foi, quiçá, o maior de todos já realizados. Michael Jackson não viu. Não pôde ter ciência do sentimento que falaram ali. De real mesmo, apenas um caixão de ouro, fechado. Não se sabe se ali estava o corpo. Acompanhando todo o ritual, pareceu-me de que não se tratava de um velório. E, cá para nós, talvez tenha mesmo que ser assim. Nada de choro. De lágrimas exageradas. De gritos histéricos.
O valor desprendido da vida. Do que representou Michael Jackson, talvez, só tenha sido reconhecido por ele próprio. Da morte vem a certeza, a única, de que é sempre salutar duvidar de tudo. Até da própria morte. Podem até parecer palavras vazias, mas quando se passa por momentos semelhantes, vê-se que nem sempre damos o real valor a alguém. A dor é a mesma. Para quem morre e para quem fica.
O vazio impregna ambientes e vidas que se geraram e que agora se apresentam negras, do luto. Aliás, outro fator marcante nessa história toda é a cor. Michael a renegou. Fez como todos nós. Renegamos algo e alguma coisa sempre, seja um amor, um trabalho, uma responsabilidade. Enfim, a lição que se pode tirar disso tudo é que o mundo nos coloca em posições complicadas e às quais devemos nos ordenar e caminhar seguindo uma orientação que não é nossa. Afinal, é preciso viver.
E, para viver, também se faz necessário morrer. A gente morre aos pedaços, a cada dia, instante. À medida que aprendemos, o que éramos deixa de sê-lo contínua e sistematicamente. Talvez, o Jackson que morreu nem tenha sido o Michael.
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