Zelaya, presidente deposto de Honduras, abrigado na embaixada do Brasil há 60 dias
O governo Lula tem nas mãos dois pepinos de bom tamanho – e um terceiro de passagem.
O governo Lula tem nas mãos dois pepinos de bom tamanho – e um terceiro de passagem.
Os dois dos quais não se livrará tão cedo: Manoel Zelaya, presidente deposto de Honduras, há 60 dias hospedado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, e Cesare Battisti, condenado na Itália por quatro assassinatos, recolhido a uma penitenciária de Brasília.
O terceiro pepino é de longe o mais ilustre e também o mais polêmico - Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã, famoso por ter negado o holocausto de seis milhões de judeus durante a 2ª. Guerra Mundial.
Se dependesse dele, Israel já teria sido varrido do mapa. Detestado pela comunidade internacional, tratado como um pária, Ahmadinejad ficará 24 horas entre nós. Isola! Aproxime-se para lá!
Lula foi o único presidente de país importante que se apressou em considerar legítima a recente reeleição de Ahmadinejad. O momento em que procedeu assim coincidiu com a denúncia de que a reeleição fora fraudulenta.
Milhares de pessoas saíram às ruas de Teerã em sinal de protesto. Foram reprimidas duramente pelas forças de segurança do regime fundamentalista dos aiatolás.
Ahmadinejad é grato a Lula. O Brasil será o primeiro país ocidental a recepcioná-lo depois de sua nova posse. A visita foi planejada para deixar a impressão de que Ahmadinejad não é tão feio como parece.
Ele se reunirá com senadores e deputados no Congresso, visitará uma universidade de Brasília, dará uma entrevista coletiva e repetirá que o programa nuclear iraniano tem fins pacíficos – assim como o nosso.
Com o apoio dos Estados Unidos, Honduras realizará eleições gerais no próximo domingo.
Se os hondurenhos não seguirem a ordem de Zelaya para ficar em casa, se atentados terroristas não causarem grandes danos e se observadores internacionais derem testemunho da limpeza do processo eleitoral, a posição do governo brasileiro se tornará insustentável a longo prazo.
Em tempo: duas bombas explodiram, ontem, de madrugada na capital.
O ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, antecipou que o Brasil desconhecerá os resultados das eleições hondurenhas porque Zelaya não foi reconduzido ao seu cargo.
Zelaya e Roberto Micheletti, presidente de fato de Honduras, assinaram um acordo sob o patrocínio do governo americano que prevê o exame pelo Congresso da restituição do poder a Zelaya e a aceitação dos resultados das eleições.
O acordo não fixou uma data para que o Congresso decida o destino de Zelaya. Isso deverá ocorrer depois de proclamado os resultados das eleições e conhecido o futuro presidente, que tomará posse no final de janeiro.O acordo não obriga o Congresso a reempossar Zelaya.
O Brasil em nada contribuiu para resolver a crise hondurenha. Se ela acabar sem a volta de Zelaya ao poder, só nos restará um hóspede incômodo.
Sempre se poderá dizer que Zelaya foi um pepino jogado no colo de Lula pelo presidente Hugo Chávez, da Venezuela.
Battist, não. Foi um pepino que o PT jogou no colo de Lula. E que ele acolheu satisfeito.
A psicanálise talvez ajude a explicar o comportamento do PT e de Lula.
O PT perdeu sua identidade como partido de esquerda. Ela lhe faz falta às vésperas de eleições. De sua parte, Lula deve reconhecer que maltratou demais o PT.
O governo jogou pesado e à sombra para arrancar do Supremo Tribunal Federal (STF) a bizarra sentença produzida na semana passada.
Battisti cometeu crimes comuns na Itália e não políticos como entende o governo brasileiro, segundo o STF.
Seu refúgio é ilegal, segundo o STF.
Ele deve, portanto, ser extraditado, segundo o STF.
Mas caberá a Lula a última palavra, segundo o STF.
Ora, para que serve um tribunal que terceiriza seu julgamento? Foi a maior patacoada da história do STF.
Battisti só poderá ficar no Brasil na condição de asilado político.
O governo terá de dizer que ele correrá perigo se for extraditado.
Na Itália, um país democrático, isso soará como uma afronta. E será, de fato, uma grave afronta.
Do blog de Noblat
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