Tenho lido, ouvido mais ainda, algo que parece quase consenso ou verdade: José Serra (PSDB) não é simpático; Dilma Rousseff (PT) não é simpática.
Mesmo que eu desconfie sempre das "verdades" absolutas, por dever de ofício e natureza, sou obrigado a admitir: os dois não não ganhariam título de muso ou miss simpatia em qualquer evento de beleza ou político.E daí? Nunca votei em gente por ser simpática.
Nem mesmo em épocas mais primárias da juventude, nos primórdios da condição de eleitor, fui movido por arcadas dentárias reluzentes. Nem sou a favor de banguelas, que se diga.
Quero um presidente digno, competente, diáfano e se for o caso - pode assumir sua casmurrice à vontade. Quem ri desbragadamente é atoleimado ou quer fazer alguém de trouxa.
Não quero um presidente com acenos forçosos, comportamento dissimulado e frases perfeiras e arrumadas.
Serra, Dilma, Ciro Gomes (PSB), Marina Silva (PV) e seja lá mais quem apareça, que seja apenas presidente do Brasil. Comandante-em-chefe de uma nação miscigenada, de povo inventivo, tropical e assumidamente diferente.
Tenho sempre muitas reservas à simpatia laboratorial, aos afagos de tamanduás e aos tapinhas nas costas. Para mim, esse tamborilar de dedos sobre as omoplatas, é a sinfonia da perfídia.
Normalmente assim escolhem onde vão enterrar o punhal.
Prefiro, portanto, um presidente amuado, chato e azedo. De minha parte, nenhum problema.
Basta ser presidente desse Brasil que canta e é infeliz-feliz, num dueto dissonante;
De Darcy Ribeiro e Carlos Lacerda;
Da Casa Grande e da Senzala;
Do Maracanã lotado, ou da várzea onde a bola saltita entre as imperfeições da terra batida;
Da pauliceia desvairada, do meu sertão humano e acolhedor;
Do nó que aperta a gravata nas salas com ar-refrigerado ou do nó que entala a garganta dos injustiçados;
Do menino que para no sinal com a mão estendida, do filho que não sabe o que fazer com tanta fartura dia após dia;
Do capital que escraviza a qualquer preço, do trabalho feito por qualquer valor.
De um Brasil novinho em folha.
Um Brasil que faz 510 de existência histórica hoje.
De um Brasil que dizem ser do futuro, de uns poucos, para espertos, forjado na impunidade e avesso ao bem comum.
Um Brasil desigual, covarde e injusto, mas minha pátria-mãe-gentil.
Encarnado, verde, da esquerda, da direita, operário, engravatado... Não importa. Quero um presidente para o Brasil, não para uns poucos, mesmo que não sorria. Acorde! Nós estamos sendo filmados.
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