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ARTIGO: "JOGOS: BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS"

Por Ângela Morandini

Jogo é um ato de liberar tensões, fonte de prazer, alegria, descontração, convivência agradável e educativa. Falar-se de jogo é falar de atividades que envolvem prazer, regras, vencedores e perdedores. É uma atividade social que garante a interação e construção do conhecimento da realidade vivenciada pelas crianças e de constituição do sujeito – criança como sujeito produtor de sua história.
A abrangência do jogo está altamente ligada ao aspecto social, pois o ambiente social do escolar iniciante é o grupo de jogo. Ele oportuniza contatos em grupo, que requerem a mínima participação de agentes controladores de origem externa. A forma jogada possibilita o verdadeiro equilíbrio entre as ações dos membros de um jogo social e isso favorece um trabalho educativo, proporcionando aprendizagens importantes.
O jogo ganhou, nos últimos anos, sentido de prazer, de algo que se realiza sem conflitos, contribuindo para que as atividades não se desenvolvam num processo rígido. O jogo canaliza os ensinamentos sérios e importantes através do dinamismo, do prazer e da alegria. Podemos ver que por meio de jogos as crianças se relacionam espontaneamente e são capazes de respeitar o código estabelecido, e criar leis da própria atividade.
Sabemos que tanto o jogo quanto a brincadeira estão atrelados no mundo infantil, pois a criança adquire a aprendizagem jogando, pois jogando fornece a criança a possibilidade de construir uma identidade autônoma, cooperativa e criativa. Os jogos fazem parte do ato de educar, um compromisso consciente, intencional e modificador da sociedade.
PÔR QUE É IMPORTANTE JOGAR?
Jogar é importante, por ser um procedimento de real valor no desenvolvimento de qualquer conteúdo. O jogo é um dos mais antigos e nobres processos de aprendizagem e, seguramente, contém as mais autênticas manifestações sócias pedagógicas. Trabalhando com jogos o professor contará com um ambiente descontraído, onde a aprendizagem acontecerá naturalmente e evitará certos desgastes que um procedimento mais rígido, poderá proporcionar uma maneira prazerosa de trabalhar, durante vários momentos dentro e fora da sala de aula.
PIAGET (1994:25) vê no jogo: um processo de ajuda ao desenvolvimento da criança; acompanha-a, sendo, ao mesmo tempo, uma atividade consequente de seu próprio crescimento”.
Afirma Piaget que o jogo proporciona à criança viver momentos de colaboração, competição e também de oposição, ensinando-as a conhecer regras, respeitar o companheiro e aumentar os contatos sociais, ajuda ainda na superação do egocentrismo. O jogo oportuniza o desenvolvimento motor da criança, permitindo que ela crie e monte seus próprio jogos melhorando as suas habilidades, motiva-a também a ultrapassar seus limites.
ALVES (1994:26), diz que:
“(...) o jogo traz a visão do futuro. O jogo tem a visão do futuro em primeiro lugar por que seu espírito criativo está nas origens da humanização. Em segundo lugar porque está vinculado à criança e ao espírito infantil.”
O jogo é considerado um dos elementos fundamentais para que o processo de ensino-aprendizagem possa superar os indesejáveis métodos da descoberta, do conteúdo pronto, acabado e repetitivo, que tornam a educação tão maçante, sem vida e sem alegria. O jogo supõe relação social. Por isso, a participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais, respeito mútuo, solidariedade, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal.
QUANDO E COMO USAR OS JOGOS NO DIA-A-DIA DA SALA DE AULA
Os jogos devem ser utilizados no dia-a-dia da sala de aula, dentro de um objetivo. O importante é que seja proposto de forma que a criança possa tomar decisões, agir de maneira transformadora. Os jogos devem ser usados para fazer com que a criança reflita, ordene, desorganize, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira.
Para Celso Antunes (1998:40):
“O jogo somente tem validade se usado na hora certa e essa hora é determinada pelo seu caráter desafiador, pelo interesse do aluno e pelo objetivo proposto. Jamais deve ser introduzido antes que o aluno revele maturidade para superar seu desafio e nunca quando o aluno revelar cansaço pela atividade ou tédio por seus resultados.”
As atividades realizadas em forma de jogos, utilizadas na hora certa e de maneira correta, proporcionam à criança condições para desenvolverem as relações sociais, aprendendo a se conhecerem melhor e a conhecerem e aceitarem a existência dos outros. O educador deve procurar despertar o espírito de cooperação e de trabalho conjunto no sentido de metas comuns. A criança precisa de ajuda para aprender a vencer, sem ridicularizar uma atitude de compreensão e aceitação.
Podemos ver que quando o clima da sala de aula é de cooperação e respeito mútuo, a criança sente-se segura e emocionalmente e tende a aceitar mais facilmente o fato de ganhar ou perder como algo normal, decorrente do próprio jogo. Cabe ao professor, em sala de aula ou fora dela, estabelecer metodologias e condições para desenvolver e facilitar este tipo de trabalho.
O QUE É BRINCAR?
O brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças, e para que elas brinquem é suficiente que não sejam impedidos de exercitar sua imaginação. A imaginação é um instrumento que permite relacionar seus interesses e suas necessidades com a realidade de um mundo que pouco conheço. É por meio das brincadeiras que as crianças se interagem no universo dos adultos, universo que já existiam quando elas nasceram e que só aos poucos elas poderão compreender.
WINNICOTT (1975:63), estudioso do crescimento e desenvolvimento infantil, considera que:
“(...)o ato de brincar é mais que a simples satisfação de desejos. O brincar é o fazer em si, um fazer que requer tempo e espaço próprio, um fazer que se constitui de experiências culturais, que é universal e próprio da saúde, porque facilita o crescimento, conduz aos relacionamentos grupais, podendo ser uma forma de comunicação consigo mesmo (a criança) e com os outros (...).”
WINNICOTT também coloca o brincar como uma área intermediária de experimentação para quais contribuem a realidade interna e externa. Nesse sentido, a criança pode relacionar questões internas com a realidade externa, e tornar-se capaz de participar de seu contexto e perceber-se como um ser no mundo.
Analisando a concepção acima, podemos dizer que no ato de brincar, tanto o adulto quanto a criança estão plenamente libertos para a criação. E é através da criatividade, que o indivíduo torna-se pleno e sincronizado com a vida, dando valor a esta, percebendo suas potencialidades, além da importância das trocas interindividuais.
Podemos ver que na alfabetização o brincar é de fundamental importância para resolução dos problemas emocionais que fazem parte do desenvolvimento da criança.
Brincar é uma atividade lúdica criativa no brinquedo, entra em ação a fantasia. O indivíduo criança ou adulto ao brincar, transforma a realidade e a realidade o transforma; cria personagens e mundos de ilusão, coloca-se diante do risco, do imprevisto, do suspense. Não há necessidade do resultado a alcançar.
POR QUE É IMPORTANTE BRINCAR?
O brincar é importante porque proporciona uma ética da aprendizagem em que as necessidades básicas da criança podem ser satisfeitas. Essas necessidades incluem as oportunidades de praticar, escolher, preservar, imitar, imaginar, dominar, adquirir competência e confiança, de adquirir novos conhecimentos, habilidades, pensamentos, entendimentos e de conhecer e valorizar a si mesmo e as próprias forças, e entender as limitações pessoais.
MALUF (2003:20), diz que “é importante a criança brincar, pois ela virá se desenvolver permeada por relações cotidianas, e assim vai construindo sua identidade, a imagem de si e do mundo que o cerca.”
Para as crianças, o brincar é a forma mais perfeita de se comunicar, é um meio para perguntar e explicar, um instrumento que ela tem para se relacionar com outras crianças. Ainda insiste MALUF (2003:31): “Brincar é a forma mais perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa aprender e se desenvolver.”
De acordo com a colocação acima podemos ver que por meio da brincadeira temos uma visão mais ampla da criança. Sendo assim, podemos ajudá-las no que mais precisam para aprender e se desenvolver. Brincando, as crianças aprendem mito sobre o mundo que as cerca e têm a oportunidade de procurar a melhor forma de se integrar a esse mundo que já encontraram pronto ao nascer.
BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS
O brinquedo caracteriza-se, ainda, pela presença do outro. Brincar é estar junto com o outro. É sentir o gesto, o olhar, o calor do companheiro. O brinquedo aproxima as pessoas, torna-as amigas, porque brincar significa sentir-se feliz.
Walter Benjamim (1984:42), diz que: “O brinquedo sempre foi e sempre será um objeto criado pelo adulto para a criança. Mesmo os brinquedos antigos como a bola, a pipa, desenvolveram as fantasias infantis”. Os brinquedos e brincadeiras propõem um mundo imaginário tanto às crianças quanto os adultos.
O brinquedo e a brincadeira possuem um papel de grande importância no desenvolvimento da criança. Esse papel é, sem dúvida, fundamental para a aprendizagem da leitura e da escrita, permitindo o desenvolvimento da iniciativa, da imaginação, da criatividade e do interesse.
A criança vive um intenso processo de desenvolvimento. Nela se expressa a própria natureza, e cada instante, surge uma nova função. Ao entrarem em ação, a criança busca atividades que lhe permita manifestar-se de forma mais completa. A primeira atividade é brincar e é através desse brincar, que ela desperta para o mundo, sendo o começo de uma série de outras atividades que se desencadeiam à medida que se tornam ação, levando-a a descobrir novas formas de aprendizagem.
A autora é pedagoga e professora da Escola Estadual Ewaldo Meyer Roderjan em Brasnorte - MT. 

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