Jornalista Dorjival Silva |
Li uma reportagem, hoje, no UOL Economia enfocando que nascer em
bairro pobre pode prejudicar ascensão social por décadas. Conforme o texto, o
local específico da cidade onde uma pessoa passa os primeiros 16 anos de sua
vida é determinante na renda que ela terá muitas décadas depois.
"A vida nos bairros mais carentes implica frequentar escolas
de má qualidade, ficar mais longe das oportunidades de trabalho e mais perto
dos focos de violência de nossas cidades".
Agora imagina meu caso!
Nasci em Patu, uma pequenina cidade potiguar do interior
nordestino, localizada no chamado "Polígono da Seca", talvez um dos
lugares mais secos do Planeta.
Certamente, o leitor não terá como avaliar os esforços que um
adolescente, filho de agricultor, teve para concluir o antigo segundo grau,
chegar à Universidade pública, se profissionalizar e configurar seu espaço na
sociedade.
Oriundo de uma família sem qualquer recurso para custear o meu
sonho de chegar à Universidade, tive que encarar a Casa do Estudante de Mossoró
(RN), onde morei em penúria social por vários anos até conseguir meu objetivo.
Quantos finais de semana: da sexta-feira à noite até o amanhecer
da segunda-feira seguinte, fiquei sem por alimento algum no estômago! A Casa
não tinha sequer café da manhã em alguns finais de semana. Vi muitos colegas
desistindo do sonho e retornando para suas cidades pobres. Sem esperança.
Finalmente, aos 27 anos de idade passei no vestibular e me tornei
acadêmico do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio Grande do
Norte.
Depois, lancei dois livros de poesia, me tornei profissional da
imprensa e de lá para cá venho batalhando dia e noite para sobreviver
descentemente fazendo jus a tantos esforços.
No final da década de 90 conclui a faculdade de Teologia. E em 2007,
conclui o curso de Pedagogia pela Faculdade de Educação de Tangará da Serra.
Iniciei minha vida profissional quando muitos de minha idade já se
encontravam estabilizados. Mas, nunca pensei em desistir dos meus sonhos e
objetivos.
Dia 28 de março completarei 50 anos de idade. Graças a Deus e a
tantos esforços, chego a esta linda idade como homem realizado e feliz.
Tenho uma família estabilizada. Tenho residência própria. Trabalho
próprio. Independência social. E muita esperança no coração.
Aos jovens que lêem esse texto deixo uma mensagem. Realmente, não
é fácil ganhar espaço relevante na sociedade quando se nasce numa cidade ou
bairro muito pobre, como foi meu caso. É muito difícil. Mas, quando há esforço
e determinação é possível atingir ao alvo, mesmo que demore um pouco mais.
Meu lema tem sido: não importa de onde sai, mas para onde estou
indo. Eu sei onde quero chegar.
Abraço a todos.
Dorjival Silva
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