O presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), Cláudio Lamachia, criticou
duramente as penas previstas para juízes que cometem atos ilegais no Brasil. Em
entrevista ao UOL, ele disse que afastar juízes pagando salário ou
aposentadoria é um "deboche à sociedade."
"Acho que, na sua grande maioria, elas representam
muito mais um prêmio que uma verdadeira punição", disse, defendendo
mudanças nas penas "absolutamente brandas" previstas na Loman (Lei
Orgânica da Magistratura Nacional). "Ela precisa ser adaptada e melhorada,
dando a ela algo mais atual. Para o cidadão vira um deboche quando ele lê uma
noticia de que um determinado magistrado, que agiu de forma arbitrária ou
favorecendo à corrupção, é aposentado compulsoriamente recebendo seu salário
--mesmo que proporcional."
Hoje, a perda do cargo de juiz (e consequente cassação de
aposentadoria) só ocorre quando há uma condenação penal transitada em julgado.
Lamachia comentou a pena dada à juíza Clarice Maria de
Andrade, punida com uma "pena de disponibilidade" imposta pelo CNJ
(Conselho Nacional de Justiça) por manter uma adolescente de 15 anos em meio a
30 homens por 22 dias em Abaietuba (PA).
"O problema é que o afastamento da jurisdição ocorre
por dois anos remunerados. Isso tem de ser discutido, não é possível! Vira um
deboche à sociedade. Durante dois anos vamos pagar alguém que vai ficar em
casa, sem exercer sua função pública, mas recebendo religiosamente pelo
erário?", questiona.
Lamachia também ataca a diferença no tratamento entre os
servidores dos poderes no quesito punição. "Hoje o servidor público do
Legislativo ou Executivo, quando é exonerado, perde sua remuneração, inclusive
com a cassação de aposentadoria. Por que essa diferenciação?"
O presidente faz questão de ressaltar que a OAB defende a
continuidade do princípio da vitaliciedade (que garante que um juiz não deixa
sua função em nenhum momento). O princípio foi criado para impedir que a
demissão vire uma forma de pressão em julgamentos.
"A vitaliciedade é fundamental! Mas há de se encontrar
meios efetivos para destituir magistrados corruptos ou arbitrários da garantia
dessa vitaliciedade Não se pode
emprestar a ela um manto que se empresta hoje para abrandar determinadas
punições aos magistrados que abusam do poder ou cometem graves infrações",
disse.
Para o presidente, a forma como as punições ocorrem no país
acabam desestimulando os magistrados que atuam com retidão. "Além da
punição nos termos da Loman, ela ainda conspira contra a esmagadora maioria da
magistratura brasileira e com a própria classe, que premia maus juízes em
detrimento da maioria dos juízes brasileiros. Isso afeta o próprio poder. Os
juízes que trabalham um vida inteira de forma correta, íntegra, comprometida
veem seus colegas que trabalham na ilegalidade sendo premiados", comentou.
Mudança na lei
O presidente da OAB diz que é preciso mudar a lei para a
punição de cassação de aposentadoria seja prevista já na sanção administrativa.
"Tenho defendido que possa se cortar a remuneração magistrado já na condenação,
claro que respeitando o devido processo legal e direito de defesa. Aqui não é
uma crítica ao CNJ, que aplica o limite máximo da lei. Precisamos é mudar a
lei", explica.
Claudio Lamachia diz que, além da Loman, será preciso mudar
a Constituição. "Teríamos que ter uma alteração também na Emenda
Constitucional 45, que alterou o artigo 93, inciso 7, incluindo a condição de
exoneração ao magistrado", explicou
Segundo ele, já existem duas PECs (Propostas de Emenda à
Constituição) tramitando no Congresso para alterar a lei dos magistrados, mas
diz que ainda vai buscar mais informações sobre elas. "Vou fazer um exame,
pois pelo que me disseram, [as PECs] não têm esse condão direto permitindo a
exoneração sem vencimentos. Vamos examinar e, se elas precisarem de alguma
emenda, vou conversar com integrantes da Ordem para ver se vamos fazer alguma
coisa", disse.
Uma das ideias defendidas por Lamachia é que o juiz, ao ser
condenado administrativamente pelo CNJ, não se aposente, mas tenha direito de,
ao ser exonerado, receba de volta as contribuições previdenciárias. "Não
precisa tirar tudo, mas ele não pode é contar com uma aposentadoria
vitalícia", finalizou.
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