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Está claro que a reabertura das escolas não agrava a pandemia, diz Viviane Senna


“As pesquisas, os dados e a experiência em outros países mostram que é seguro reabrir as escolas“, afirma Viviane Senna, 63. A presidente do Instituto Ayrton Senna, que ela fundou há 25 anos com o propósito de melhorar a educação no Brasil, se tornou um dos mais respeitados nomes do país nesse setor.

Para a empresária e psicóloga, desde que respeitados os protocolos de segurança, os prejuízos não são o de reabrir escolas, mas o de mantê-las fechadas. Em entrevista à Folha, armada de estudos sobre a pandemia no mundo, Viviane afirma que não é à toa que o Brasil esteja entre os últimos países a reabrir escolas, quando praticamente todas as outras atividades já foram retomadas.

“É bem representativo de qual é prioridade do país.” Critica prefeitos que adiaram a reabertura para 2021 e diz que toda a sociedade precisa tomar consciência do quão danosa é essa decisão: “Estamos condenando essa geração de crianças e jovens”.

Em artigo publicado em maio na Folha, a sra. já falava que o ensino a distância era um paliativo, especialmente em um país com desigualdades, e que deveríamos não perder de vista que o principal era o retorno às aulas presenciais. Como avalia o fechamento tão prolongado das escolas?

O princípio de qualquer decisão em política pública deve ser lastreado em evidência científica e empírica. As pessoas temem três riscos: o da contaminação das crianças, o do óbito e o da chance de transmitirem para adultos. Mas as pesquisas e os dados mostram que esses riscos são pouquíssimo relevantes e não justificam que se mantenha as escolas fechadas.

As crianças são muito pouco suscetíveis à Covid-19. No mundo, são 24% da população, e apenas 2% dos casos de contaminados, dos quais 0,1% foi a óbito. São 37 vezes menos que os adultos. No caso da gripe, as taxas de infecção e óbitos dentre crianças é duas vezes maior do que as da Covid-19. Se não abrimos escola pensando no risco de morte das crianças, deveríamos ter mais medo da gripe.

Por fim, o aspecto da transmissibilidade para os adultos, em razão de as crianças serem assintomáticas, não se confirmou em diversos países, inclusive a partir da volta às aulas. O pico do fechamento das escolas foi em abril, com 192 países, representando 91% ou 1,6 bilhão de alunos. Em setembro, são 46 países, menos de 24% do total.

Nos que reabriram, a volta às aulas teve resultados bastante bons e não impactou a curva da transmissibilidade nem a de óbitos. Houve países, como Alemanha e França, com focos de contaminação em poucas escolas, que logo foram fechadas para depois reabrir.

A exceção, que confirma a regra, fica por conta de Israel e da África do Sul. Na África do Sul, os professores entraram em protesto e não cumpriram protocolos. Em Israel, o retorno seria gradual, mas, dois dias antes, liberam para todos, e as escolas não tiveram tempo de se preparar.

A chave para dar certo é respeitar protocolos, ter boa comunicação entre professores, escolas e famílias, além de iniciar a abertura quando se estiver no platô de contaminação ou na curva descendente e, claro, manter isolados profissionais e alunos de grupo de risco. Dessa forma, a reabertura das escolas é segura.

E quais são os riscos de manter as escolas fechadas 

Escola não é um equipamento só de aprendizagem, mas faz parte da rede de proteção dos alunos. O fechamento oferece riscos substanciais para as crianças. Não só cognitivos, mas emocionais e de integridade física, moral e psicológica.

Para muitos, a merenda é a única refeição do dia ou, pelo menos, a única balanceada. Sem isso, há comprometimento no curto prazo, inclusive o de abaixar a imunidade para a Covid-19 e outras doenças. No longo prazo, pode comprometer o desenvolvimento físico, com danos irreversíveis.

Há prejuízos emocionais, porque escola é responsável por grande parte das interações sociais. Com o isolamento persistente, houve um agravamento de 83% dos problemas psiquiátricos pré-existentes, além de 30% do aumento, em crianças antes saudáveis, de um conjunto de sintomas psíquicos, como depressão e ansiedade. Mais de 30% pretendem desistir da escola.

Houve aumento de abuso e gravidez precoce. No Rio, as denúncias de violência doméstica aumentaram 50%. Nos EUA, 19% das denúncias contra abuso são feitas pelas escolas, que identificam a violência. No Brasil, com o fechamento das escolas, houve redução de 20% do número de denúncias de abuso.

Portanto, retirar a criança da escola é deixá-la sem proteção em vários sentidos. E o Brasil está entre os países que estão há mais tempo com as escolas fechadas, há quase 200 dias. Na maioria da Europa, gira em torno de dois meses. Na Dinamarca, 35 dias. A Itália, que deixou fechada por mais tempo, 97. Suécia não fechou escolas. 

Para continuar lendo é só clicar aqui: https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/09/esta-claro-que-a-reabertura-das-escolas-nao-agrava-a-pandemia-diz-viviane-senna.shtml

FOLHAPRESS

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