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OUSADIA: Tráfico monta base em cima da sede da Polícia Militar em favela do RJ

 

Foto: reprodução

Traficantes montaram uma base em cima da UPP do Andaraí, na Zona Norte do Rio. Os criminosos ficam literalmente sobre as cabeças dos PMs: a sede da unidade fica embaixo de uma quadra poliesportiva, onde os criminosos se instalaram e se revezam em plantões, monitorando a movimentação dos agentes. Fotografias que integram relatório interno da unidade obtido pelo EXTRA mostram os traficantes — alguns deles foragidos — portando fuzis e usando drogas no local, poucos metros acima da porta de entrada da UPP.

O relatório, elaborado neste mês pelo comando da unidade com base em dados coletados pelo setor de inteligência, aponta que “a presença de meliantes fortemente armados logo em cima da base” tem como objetivo “ameaçar e afrontar os policiais que nela trabalham, representando uma séria ameaça à segurança orgânica do aquartelamento, bem como incremento da vulnerabilidade nos deslocamentos realizados pelo efetivo das atividades meio e fim para assunção e troca de serviço”.

O objetivo do documento é relatar à Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) o “fomento da vulnerabilidade” da sede, após uma série de ataques do tráfico a partir do segundo semestre do ano passado. O mais recente aconteceu na madrugada do último dia 3, quando traficantes atearam fogo numa viatura estacionada na vaga do comandante da unidade em resposta à morte de um traficante horas antes num tiroteio com PMs da UPP. O veículo ficou carbonizado.

Antes festejada como uma das UPPs “modelo” — a partir de sua inauguração, em 2010, a UPP do Andaraí ficou cinco anos sem registrar mortes de policiais na favela —, a unidade passa por uma de suas maiores crises desde a fundação. Um dos motivos é o aumento do poderio bélico dos traficantes locais promovido pelo novo chefe do tráfico da favela, Rodrigo Rosa Brasil, o Boneco, que foi alçado ao posto um ano depois de sair do Instituto Penal Edgard Costa, onde cumpria pena no regime semiaberto, para visitar a família e não voltar, em março de 2019. Seu antecessor, Gilson Brígido dos Santos, foi retirado do cargo em meados de 2020 por uma ordem da cúpula da maior facção do tráfico do Rio, de dentro do Complexo de Gericinó, insatisfeita com os baixos lucros provenientes da venda de drogas e das investidas de facções rivais na favela.

Déficit de 80 agentes

O relatório também escancara o déficit de efetivo da UPP do Andaraí. De acordo com o documento, “a perda de efetivo ao longo dos últimos anos resultou em um déficit atual de cerca de 80 policiais, e que se materializa em um efetivo diário aquém da necessidade”. Ao todo, a unidade conta com 144 policiais. Quando a UPP foi inaugurada, eram 229 homens. Atualmente, o efetivo previsto para a unidade pela própria corporação é de 219 agentes.

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar afirmou, em nota, que, “assim como as demais Unidades de Polícia Pacificadora, a UPP Andaraí passa por processo de recuperação, tanto no que se refere à fortificação e melhoria das instalações físicas, como também de realocação de bases para áreas mais estratégicas e seguras”.

De acordo com a corporação, “as mudanças de estrutura oferecerão melhores condições de trabalho aos policiais militares, item fundamental para transformar áreas amarelas de policiamento em áreas verdes, aumentando a sensação de segurança da população local”.

Óleo para afastar PM

De acordo com o relatório da UPP, o chefe do tráfico no local, Boneco, adquiriu fuzis — armamento raramente visto na favela desde a inauguração da unidade — e abrigou comparsas provenientes do Complexo do Lins. A base, localizada na parte baixa de um vale, num ponto considerado “vulnerável” pelo comando da unidade, passou a ser alvo constante de disparos de fuzil feitos de partes mais altas, como Cruzeiro e Jamelão.

Para dificultar o acesso dos PMs a essas áreas, os criminosos passaram a jogar óleo queimado nas ladeiras que levam aos pontos, onde montaram outras bases com seteiras (buracos em muros onde é possível apoiar a ponta do fuzil) apontadas para a UPP.

Para proteger os policiais, o comando da unidade está construindo um muro de concreto na parte traseira da unidade. No documento, entretanto, também são solicitadas à CPP outras reformas estruturais, como a construção de uma cabine ao lado da quadra onde os criminosos montaram sua base com acesso pelo interior da sede da UPP e de uma base avançada na localidade Jamelão.

Extra

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