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A hora de Serra


Foto: Emmanuel Pinheiro / O Estado de S. Paulo

Perguntei aqui quando Dilma Rousseff ultrapassará José Serra nas pesquisas de intenção de voto.

Das 3.380 respostas registradas até o início desta madrugada, 11,8% cravaram a opção “depois que Lula começar a pedir votos para Dilma na televisão a partir de agosto”.

A opção “não ultrapassará Serra” atraiu 77,6% das respostas.

Otimistas, os que torcem por Serra ou parecem resignados com seu aparente favoritismo.

A tendência detectada pela série de pesquisas aplicadas desde o ano passado por quatro institutos (Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus) sugeria a ultrapassagem de Serra por Dilma antes do início oficial da campanha eleitoral marcado para cinco de julho próximo. Ocorreu que...

Ocorreu que Serra largou o governo de São Paulo e se lançou como pré-candidato à sucessão de Lula.

O barulho promovido pela oposição em torno do lançamento interrompeu a ascensão de Dilma, embora não tenha refletido de maneira expressiva na diferença de intenção de votos entre os dois. Pelo contrário. A diferença aumentou apenas em um ou dois pontinhos – dentro, portanto, da margem de erro das pesquisas.

O governo aposta na retomada do crescimento de Dilma depois dos comerciais do PT que começaram a ser veiculados no rádio e na televisão na última quinta-feira. E que deverão culminar nesta quinta com o programa de 10 minutos do partido a ser estrelado pela candidata.
O programa corre o risco de não ir ao ar. O Ministério Público Eleitoral quer punir o PT por ter usado o programa de dezembro para fazer propaganda de Dilma.

O PT limita-se a seguir o exemplo que vem de cima.
Há quase dois anos que Lula faz campanha aberta por Dilma desrespeitando a lei – e em algumas ocasiões debochando dela. Foi multado duas vezes.

Os comerciais do PT exibidos na última quinta-feira acabaram vetados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois novos comerciais exibidos no fim de semana derraparam nos mesmos problemas dos comerciais vetados.

Na fase de pré-campanha é Serra quem tem brilhado mais. A agenda tem sido ditada por ele. E quem dita a agenda comanda a campanha.

Dilma ainda não encontrou um discurso. Tentou dois caminhos e, aparentemente, abandonou-os.

Tentou seguir o script pré-determinado há meses de comparar os governos Fernando Henrique e Lula. Não rendeu o suficiente até aqui.

Ficar na comparação entre os governos não lhe daria base para um posicionamento firme como candidata com vida e luz próprias. Ela passou então a atacar Serra.

Acusou-o de ser um lobo metido em pele de cordeiro. Chamou-o de biruta de aeroporto, que muda de direção a depender da força dos ventos. Não deu certo também. Para que desse, o adversário teria de topar a briga.

E Serra não topou. Quando lhe perguntaram o que achava de ter sido comparado a uma biruta de aeroporto, apenas riu.

Durante o debate entre os candidatos na associação mineira de municípios, Serra desdobrou-se em cortesias com Dilma. Chegou ao ponto de dizer que ela jamais dificultou ou impediu a cooperação entre o governo federal e o governo paulista. Esfregou seu nariz no dela.

À procura de um discurso que não se restrinja à exaltação do governo Lula e à promessa de que dará continuidade a ele, Dilma tem incorrido no erro de se deixar pautar pelo adversário.

Serra defendeu a criação do Ministério da Segurança Pública. Ela criticou a proposta. Serra disse que, se eleito, gostaria de governar com o PT e o PV. Lorota pura para ocupar espaço na mídia como candidato de conciliação.

Dilma reagiu à idéia. Líderes de peso do PT também reagiram. Assim como haviam reagido à garantia oferecida por Serra de que ampliará os benefícios do programa Bolsa-Família.

Se Lula pôde se apropriar de várias bandeiras do PSDB realizando um movimento clássico estudado em livros dedicados ao marketing político, por que Serra não poderia fazer o mesmo?

A hora de Dilma ainda está por vir. DO NOBLAT

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