Dilma, confiança em concordata
Dilma, antes de subir a rampa do Planalto, cultivou uma imagem de uma gestora dura, inflexível, que sabia que o que queria fazer e fazia – alguém um tanto impaciente e agressiva. Mineiramente, pão de queijo com tempero gaúcho. Os "estrategistas de marketing" que transitam em torno do poder, oficialmente e oferecidamente, fizeram de tudo para lapidar ainda mais esta percepção. Dilma não cedia, não concedia, não nomeava, não soltava verbas. Esse jogo chegou a criar até certa ciumeira no imenso território que gravita em torno do presidente Lula. É fato que nomear para o ministério do Turismo, para ficar apenas nesse exemplo, o obscuro – e bota obscuro nisso – deputado Pedro Novais, contrariava tais efeitos publicitários. Mas versão era versão e assim foi-se indo. Dilma dixit.
Credibilidade em queda De repente, depois de alguns meses, com as dificuldades naturais do ato de governo e do modo de ser da política brasileira, as fissuras na pedreira de certezas e decisões cirúrgicas começaram a aparecer. Vacilações e mudanças bruscas de posição vieram a tornar a dama de ferro num poço de contradições. Muda de opinião, recua. Corrigir a rota é uma virtude, desde que sustentada em fatos. A coerência absoluta é uma burrice. Mudar ao sabor dos ventos é insegurança, vacilação. E solapa a confiança, a credibilidade. Dilma vive este delicado momento, na abertura do segundo semestre do governo, em meio a tantas mudanças de opinião e de posições, sem argumentos que justifiquem tais idas e vindas.
Contradições e mais contradições Já foi a favor, já foi contra e depois ficou de novo a favor do sigilo eterno dos documentos oficiais classificados como ultrassecretos. Defendeu o sigilo no valor inicial das obras ligadas à Copa do Mundo e à Olimpíada e depois ficou nem tanto assim. Sobre os pontos mais polêmicos do Código Florestal classificou-os como inaceitáveis. Na sua mais grave concessão, a presidente, na semana passada, depois de avisar que não prorrogaria mais a anulação dos restos a pagar do Orçamento de 2009, no que tinha o irrestrito aval do ministro da Fazenda, deu mais um prazo para as verbas serem liberadas. A presidente argumentava que não podia passar para a opinião pública que estava fazendo concessões em suas políticas de austeridade fiscal, cuja base é um corte de R$ 50 bi no orçamento deste ano aprovada pelo Congresso. Falaram mais alto as pressões dos deputados e senadores.
Trégua para se recompor A consequência é que a crista dos parlamentares e partidos aliados vai crescer e os agentes econômicos e privados vão ficar com a confiança no governo em concordata. Temos pela frente, depois do dia 15, duas semanas de recesso parlamentar nos quais o Planalto terá certa tranquilidade para tentar recompor suas forças. O risco que Dilma corre é passar por uma "sarneyzação" precoce de seu governo. Ela precisa de um gesto de força real, não apenas peças de marketing. Mas isso só será possível se os parceiros colaborarem. Especialmente os dois principais, PMDB e PT.
0 Comentários