Por
Cristovam Buarque
O ENEM só
chamou atenção do Brasil depois que se transformou em uma forma nova de
vestibular. Quando tinha a finalidade apenas de medir a qualidade do ensino
médio o ENEM recebia pouca importância. Desta vez, porém, o resultado foi tão
gritante, que além de substituir o vestibular o Brasil está percebendo os
resultados negativos que o ENEM mostrou para a situação do ensino médio no
Brasil. Situação que é pior do que aparece, porque só os melhores alunos fazem
o ENEM: não fazem o ENEM aqueles que ficaram para trás por não terem condições
de nem ao menos se submeterem ao exame, porque não têm condições, interesse ou
nem sabem que o ENEM existe.
Entre os
seis milhões de nossos melhores alunos do ensino médio, os que fizeram o ENEM,
500.000 tiraram nota ZERO na redação, apenas 200 tiraram a nota máxima. Mais
grave é a baixíssima nota média dos alunos em cada setor avaliado. A educação
do Brasil foi reprovada em todos os setores. Ainda mais grave, em alguns destes
setores houve uma piora do ano passado para este. Mais grave ainda, as
exigências de educação crescem de um ano a outro e nossa qualificação piora.
Muito mais
grave, não percebemos a gravidade. Os empresários não percebem as consequências
disso para a produção por falta de trabalhadores qualificados, os donos de
jornais não percebem que ficam sem leitores. O Brasil inteiro perde.
Felizmente,uma
coisa positiva deste ENEM, o ministro Cid Gomes disse, pela primeira vez deste
2004, que não dá para fingir. Até aqui os ministros avaliavam a tragédia
positivamente, dizendo que já foi pior.
Ao dizer que
não dá para fingir, ele abre a esperança de que vai apresentar proposta para o
Brasil superar sua tragédia.
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