O caminhoneiro Ivar Schmidt é o principal porta-voz do Comando
Nacional do Transporte, uma entidade sem personalidade jurídica que tem causado
dor de cabeça tanto ao governo quanto aos sindicatos que deveriam representar a
categoria. Líder do movimento que paralisa estradas em todo o país, ele
conversou com a reportagem do site VEJA na noite desta quarta-feira. Minutos
antes, Ivar havia deixado uma reunião infrutífera com o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, que tomou a frente das
negociações sobre o tema.
A audiência só ocorreu por insistência de Ivar. Durante o dia,
Rossetto priorizara o diálogo com os sindicatos de caminhoneiros – embora a
paralisação tenha sido articulada sem a participação de entidades de classe. O
diálogo entre os representantes regionais do movimento se dá por meio das redes
sociais e principalmente pelo aplicativo de celular Whatsapp, que permite a
troca instantânea de mensagens. Foi por meio do programa que, na noite desta
quarta-feira, Ivar orientou os colegas a manterem o bloqueio. Confira a
entrevista:
Como foi a reunião com o ministro Miguel Rossetto?
Desde ontem o pessoal do governo tenta me desqualificar como
representante do movimento. Hoje a gente participou da reunião, o governo expôs
alguns absurdos e no meio dessa reunião tentaram me desqualificar novamente. Eu
me retirei da reunião, porque a gente não concorda com aquilo que foi exposto.
Aí me levaram para outra sala, falamos com o Robinson Almeida, do gabinete do
ministro, e ele expôs as mesmas ideias.
Ele disse que não reconhecia a sua liderança?
Isso.
O que o senhor achou da proposta do governo?
Isso é um absurdo. Nós estamos com lucro zero, aí o governo nos
propõe de ficar tendo lucro zero mais seis meses. Eu acho que eles não regulam
certo da cabeça. Devem estar com problema. Infelizmente não teve acordo, nós
não aceitamos a proposta.
Quantos são os pontos de bloqueio hoje?
São 128 pontos de bloqueio, em nove estados.
O senhor tem influência sobre quantos desses pontos?
Cerca de cem. Eu acho que hoje deve ter aumentado, porque a gente
criou um grupo de Whatsapp para todos os líderes e eles foram adicionando
outros colegas.
Esse episódio mostra que os sindicatos perderam o poder de
representatividade?
Com certeza. O nosso movimento abomina sindicato, associação,
federação, confederação. E esses segmentos tentaram nos representar nas últimas
décadas e nunca resolveram nosso problemas. Então, a gente está aqui. Vou ficar
em Brasília até resolver isso.
Há alguma reunião marcada para esta quinta-feira?
O secretário do ministro ficou de nos telefonar para marcar uma
reunião.
Qual foi o recado que o senhor passou aos colegas pelo Whatsapp
depois do encontro com o ministro?
O recado é claríssimo: o movimento continua.
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