O Tempo
Há um ano, com R$ 1.000 dava para comprar carne, arroz, feijão,
açúcar, pão, leite, marmitex, fazer o sacolão, pagar a diarista uma vez por
semana, arcar com custos de estacionamento e ainda fazer pé e mão. A reportagem
montou uma lista para comparar os preços e hoje, para comprar exatamente as
mesmas coisas, seria preciso desembolsar R$ 1.129. É como se os R$ 1.000 do ano
passado valessem só R$ 871 neste ano.
O resultado pode ser claramente visto nos carrinhos de
supermercados, cada vez mais vazios. Segundo levantamento do instituto de
pesquisas Data Popular, 47% da classe C já está comprando menos. E, em relação
aos próximos seis meses, 45% afirma que vai levar menos produtos para a casa.
Pelos dados oficiais do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação
em 2014 foi de 6,47%. Na cesta de produtos e serviços pesquisados pela
reportagem, a realidade foi duas vezes pior. Os preços subiram 12,85%. Alguns
itens, como as carnes, subiram muito mais.
Em fevereiro do ano passado, o preço médio do quilo da alcatra era
R$ 17,53, segundo pesquisa do site Mercado Mineiro. Agora, custa em média R$
23,40, um aumento de 33,5%. A professora de economia da faculdade IBS da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), Nora Raquel Zygielszyper, explica que a inflação
sentida na pele é muito maior, pois o IPCA é, na verdade, uma média do que
consomem as famílias que recebem até 40 salários mínimos. “Os alimentos subiram
muito, devido a fatores climáticos.
Os preços administrados também. E esses itens tem mais peso no
consumo das classes C, D e E. Por isso, a inflação é mais cruel para eles.
Quando sobem os serviços, aí o peso é maior para as classes A e B”, explica
Nora.
O presidente do Data
Popular, Renato Meirelles, afirma que as pesquisas mostram tanto que o
consumidor já está comprando menos, como que ele também pretende manter o ritmo
reduzido nos próximos meses. “Os consumidores têm sentido o peso da inflação e
já não conseguem mais comprar o que compravam antes. Já passamos por outras
crises, mas, desde o Plano Real, sempre tínhamos uma perspectiva de melhora, o
que não está acontecendo agora”, avalia.
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