Prefeito de Tangará da Serra, Fábio Martins Junqueira |
REPORTAGEM E FOTO: Jornalista Dorjival Silva
Natural de Olímpia (SP) e prestes a celebrar
60 anos de idade, o prefeito de Tangará da Serra Fábio Martins Junqueira, é o
primeiro entrevistado de uma série de entrevistas que será realizada no ano de 2017,
pelo blog Diário de Tangará. Advogado e pedagogo, o chefe do executivo
tangaraense é casado com Helena Simões Matias Junqueira e tem três filhos: Luiz
Carlos, Halina e Karina. Fábio está no começo do seu segundo mandato como
prefeito da maior cidade da região sudoeste de Mato Grosso. E hoje ele estreia
em nossa página falando abertamente sobre seu primeiro mandato de prefeito. Afinal,
foram mais acertos ou erros durante o governo passado? O prefeito elenca suas realizações
e o que planeja alcançar com sua equipe no mandado que teve início em 1º de
janeiro. Fábio Junqueira comenta que foi mal compreendido em várias
oportunidades por setores da opinião pública. Diz que sua reeleição não foi fácil
e que irá ficar à frente do poder executivo durante os quatro anos que vem pela
frente. Defende que o quadro politico de Tangará da Serra seja ampliado e não
descarta a possibilidade de em 2022 disputar cadeira na Assembleia Legislativa
ou na Câmara Federal.
Boa leitura!
Prefeito Fábio, no seu primeiro
mandato, foram contabilizados mais acertos ou erros?
Perto do que eu pequei o município de Tangará, não resta a menor
dúvida que pela situação como a gente concluiu o mandato, não há como dizer que
tenha havido mais erros. Com certeza, tivemos mais acertos. Se não tivéssemos
tido mais acertos nem teríamos tido a reeleição.
Em que situação se encontrava Tangará da Serra quando o senhor se
elegeu a primeira vez?
O que Tangará passou durante os 7 anos do (prefeito) Júlio César
foi um período de muita conturbação. Primeiro, porque ele entrou já após um
período conturbado do segundo mandato do (prefeito Jaime) Muraro e ele não
conseguiu trazer o município para uma regularidade fiscal. Pelo contrário,
potencializaram-se as irregularidades chegando até aquele momento que houve a
cassação e a eleição indireta do Saturno (Masson) pra cumprir aquele mandato
tampão e que logo em seguida eu me elegi. Cheguei num momento que as dívidas do
município de Tangará eram muito grandes. Estou falando de dívida social, dívida
moral e dívida econômica. Todas em alto grau.
O senhor poderia explicar melhor esse
quadro referentes à dividas?
Sim. Dívida econômica. O município tinha uma dívida de mais de R$
30 milhões de restos a pagar. E por isso não tinha crédito junto aos
fornecedores. Estava com uma dívida social enorme. Com ausência de vagas pra
questão hospitalar, ausência de vaga ou de percentual de cobertura na atenção
básica. Apenas 25% da atenção básica eram cobertas. Isso quer dizer que 75% da
população estavam sem cobertura nenhuma. Você tinha um hospital com apenas 16
leitos improvisados.
Além de ser muito mal instalado. Você se lembra da Unidade Mista?
As ausências de atendimento nas especialidades eram totais. Os laboratórios
acumulavam grande volume de problemas. Isso na saúde.
O município tinha também grande dívida social na educação. Todos
os prédios das escolas municipais estavam depauperados. Precisavam de
recuperação, reformas, etc. Então, não havia divida social apenas na saúde e
educação.
Imagina o tamanho da dívida social na pavimentação asfáltica! O
asfalto de Tangará atingia menos de dois terços da área da malha viária do
município. Um município com 40 anos, quando assumi tinha 36, tinha ainda mais
de 1 milhão de metros quadrados de asfalto pra ser feito.
Em quais localidades havia essa
carência de mais um milhão de asfalto para ser feito?
Na periferia. Quem mora na periferia? Exatamente as pessoas com
menor capacidade econômica. Então era uma dívida social muito grande. Além de
você ter uma parcela muito grande de asfalto de má qualidade, outra parcela era
muita antiga. Já prejudicada pelo uso. Precisando de restauração. Faltavam
pontes e sobravam ruas fechadas por falta de bueiro e drenagem. A cidade tinha
uma dívida social muito grande na área de pavimentação urbana. Ainda tem? Tem.
Mas ela é hoje menor um milhão de metros quadrados. Porque em quatro anos
conseguimos fazer um milhão de metros quadrados de pavimentação urbana.
O senhor poderia especificar quem
ganhou pavimentação urbana durante o governo passado?
Pavimentamos quase a metade do Distrito São Joaquim com asfalto de
boa qualidade. Asfaltamos também parcela considerável da área urbana do
Distrito Progresso. Asfaltamos 50% do bairro Alto da Boa Vista. Asfaltamos o
Morada do Sol. Todo o bairro Bela Vista ganhou pavimentação asfáltica. Na
Biquinha tem asfalto. Monte Líbano está quase 100% asfaltado. Bairro São Diego
está 100% asfaltado. No Cidade Alta III, faltam apenas uns pedacinhos de ruas
pra atingirmos os 100%. Califórnia e Tangará II 100% pavimentados. Terminamos
de asfaltar o bairro Uirapuru. Fizemos asfalto no Vila Goiás. Ainda falta um
pouquinho no bairro Acapulco, mas vai ser feito. Tem mais: recuperamos todo entorno
do bosque municipal. Com drenagem, pavimentação. Resolvemos aquele problema de
erosão atrás do bosque. Tivemos muitos avanços.
E o emblemático trânsito da
cidade. Nesta questão o que seu governo fez para melhorar a vida das pessoas?
Você se lembra como era a Avenida Brasil? Instalamos o sistema de
semáforos, diminuindo sensivelmente os acidentes nas avenidas Brasil e Tancredo
Neves. Implantamos cinco conjuntos de semáforos, sendo três na Avenida Brasil e
dois na Tancredo. Nem preciso dizer que o nosso trânsito é mesmo de outrora.
Prefeito, saindo um pouco da zona
urbana, o que seu governo fez de mais importante na zona rural?
Nas áreas de agricultura familiar, mais próximas aqui da região
onde tem aviários, trabalhadores que fornecem leite, produtos para a Feira, não
havia estrada vicinal prestável havia muitos anos. Hoje, você desce para essa
região das comunidades de Bezerro Vermelho, Água Branca, Palmital, Bandeirantes
e verás que todas as estradas foram elevadas. Ali na região do Queima Pé nós
fizemos 26 pontes rurais com bueiros em alvenaria. Recuperamos uma grande
extensão de quilômetros de estradas vicinais.
Durante seu primeiro mandato
ouvia-se muito dizer que o senhor era um prefeito “durão”. O senhor ainda permanece
“Durão”?
Valeu apena ter uma administração de austeridade. Às vezes eu sou
mal compreendido. Porque tem gente que pensa assim: ‘você tem que ser mais
flexível em alguns aspectos’. Posso ter sido mal entendido. Mas, flexibilizei
muito de lá para cá. Veja o hospital municipal na atualidade. Você vai lá e vê
melhores instalações. Número maior de leitos. Leitos melhores. Pacientes
melhores acomodados. Cadeiras de observação que eram de fios hoje são
poltronas. Quero dizer com isso que amoleci meu coração em direção àquilo que
verdadeiramente necessitava de investimentos que beneficiassem as pessoas. O
destino da minha austeridade era pra que mais benefícios chegassem às pessoas
que mais precisavam.
Aumentamos as vagas de creches. Nossas creches hoje, mesmo as mais
antigas, foram recuperadas. Você vai,
por exemplo, naquela creche Futuro Brilhante. Ela não é mais a mesma. O local é
o mesmo, mas o prédio é outro. A creche que tem o nome de minha mãe, no
Distrito Progreso, o local é o mesmo, mas o prédio é outro.
Ao mesmo tempo, você veja: antes, o município de Tangará tinha o
mesmo tanto de funcionários que tem hoje. Só que esparramados em prédios
alugados. Faltava qualidade de vida e melhor acolhida para o servidor,
integração nos serviços. Hoje, estão todos integrados. Acho que ainda não é
tudo que eles merecem.
Hoje, você tem um almoxarifado aqui pertinho, tudo cadastrado.
Melhoramos o atendimento, etc. Então, ter sido austero permitiu que o município
atravessasse um mandato num período difícil, de vacas magras no País inteiro e
a gente entregou o município pra esta nova gestão, novamente com minha pessoa e
agora com o (vice-prefeito) Renato (Gouveia), completamente no azul. Entreguei
pra mim mesmo neste segundo mandato mais de R$ 8 milhões de recursos próprios
em caixa, com mais de R$ 30 milhões no todo no caixa, considerando-se os
vinculados, convênios e vinculados na saúde, assistência social, do Fundeb,
etc. Ou seja: um município redondo. Um parque de máquinas novo. Adquirirmos
três patrolas, pá carregadeiras, retroescavadeiras, oito caminhões, oito
caminhonetes, isso só na Sinfra. A mesma coisa aconteceu na Educação, na Saúde,
Sefaz, adquirimos veículos para a Fiscalização. Quando assumi, na Sefaz tinha
um ‘uninho’ velho. Hoje, temos vários
veículos na Fiscalização. Folha de pagamentos em dia. RGA pagos em todos os
quatro anos, décimo-terceiro pago antecipado nos quatros anos. Nunca deixei
folha de pagamentos atrasada. Crédito, o que tem de credor é aquilo que não foi
liquidado. Se alguém não recebeu ainda é porque não terminou o serviço, mas
está empenhado para a liquidação acontecer.
Prefeito Fábio, numa rápida olhada pelo
retrovisor, dar pra dizer que houve cumprimento do que foi prometido?
Cumpri
sim. Veja: o hospital está concluído. Eu falei que iria melhorar o trânsito
implantando semáforos e cumprir. Eu fui o único candidato naquela eleição a
falar nesse assunto. Eu “apanhei” em um debate na OAB por ter falado que iria
tirar aquelas faixas, não eliminando as faixas de pedestres, mas que no centro
iria adotar o semáforo porque eu estava pensando em preservar a vida. Falei na
época que iria fazer 400 mil metros quadrados de asfalto e acabei fazendo um 1
milhão.
Prefeito, o senhor viu seu município
entrar ano passado praticamente em colapso devido à falta de recursos hídricos.
Aquela crise hídrica não poderia ter sido evitada?
Olha, nós temos um plano de saneamento que foi elaborado na gestão
atrasada, (... Agora não posso falar mal da gestão passada ... risos), com
validade para o período 2009 – 2030. Se você lê esse plano inteiro, não irá
encontrar nenhuma colocação de que precisaria construir um reservatório novo de
água. Não falava que haveria necessidade de captação de mais água do Rio
Sepotuba. Apontava apenas que lá na frente poderia acontecer alguma coisa. Mas,
só lá pra 2025. No plano não tem nada que aponte que a médio e longo prazos o
município passaria por aquela crise hídrica.
Com grande parte da população
reclamando o problema e a mídia o tempo todo em cima da questão, como
ultrapassou aquele momento no seu último ano de governo?
A
crise hídrica praticamente foi o momento mais crítico que eu passei em todo
primeiro mandato. Muito embora eu tivesse a consciência tranquila. Você sabe
por quê? O fato é que enquanto eu via num plano de saneamento feito com
previsão até 2030 não indicava necessidade de investimento em reservação de
água bruta, mesmo de água tratada, nós já estávamos com uma obra lá com
capacidade de 1 milhão de litros e que se você vai lá hoje, vai encontrar um
reservatório já completamente cheio de água bruta dentro das nossas
perspectivas que se der uma seca das que tivemos no ano passado nós não teremos
mais falta do produto.
Falando de sua reeleição. O senhor
concorreu com nomes de peso no cenário político local. Como foi o processo?
Não
foi fácil. Ela só foi mais fácil um pouquinho que a anterior porque a gente
tinha serviços prestados pra população fazer comparativo. Mas, por outro lado
eu perdi uma parte do discurso. Na eleição passada eu tinha um discurso de
oposição. Era um discurso de quem estava fora e queria entrar. O da campanha
passada era de quem queria permanecer. O que contou a meu favor na última
eleição foi o discurso do serviço prestado.
Como o senhor tem encarado as críticas
dos seus adversários políticos?
Tangará
basicamente sempre teve três grupos políticos muito grandes. Tem havido poucas
mudanças nesse cenário. Com isso, a disputa política fica sempre difícil porque
nunca polariza. Isso só ocorreu na primeira eleição municipal. Era Dona Thais Barbosa
de um lado e Hélio Tavares do outro. Depois disso sempre tivemos muitos
candidatos. Antonio Porfírio quando foi candidato disputou com mais seis. Seu
Manoel do Presidente que teve Saturnino Masson como vice, disputou com vários
candidatos. Saturnino disputou com quatro, Jaime Murado disputou com três na
primeira eleição dele a prefeito. Na segunda, também com três. Júlio César
Ladeia disputou na primeira campanha com quatro candidatos e na segunda, com três. Eu disputei na primeira campanha
com dois e na segunda com três. É bom que se entenda que as relações por aqui
ainda são de cidades pequenas onde as pessoas mantêm relacionamentos de
amizade. Assim, o grupo que perde acaba virando adversário. Não existe
inimizada pessoal entre ninguém. A questão é meramente partidária. Penso que o
detalhe está em “outros” interesses. Tem gente que gosta de laranja baiana, tem
gente que gosta de laranja ioa, existem ainda outros que gostão de laranja
lima. Há gosto para tudo. Tem gente que gosta do olho e tem gente que gosta da
remela.
Prefeito, o que os tangaraenses podem
esperar do senhor e sua equipe neste segundo mandato?
No
mandato passado, muito embora eu tenha sido afastado por seus meses, o
município ficou sob a condução do Zé Pequeno que é uma pessoa boa. Tínhamos as
questões ideológicas partidárias, mas pra mim o que prepondera é o objetivo
maior que é o cuidado com o município. Não deu certo numa continuidade de
coligação por questões ideológicas. O PMDB e o PT por razões ai que são obvias na
condução do País andaram cada um para seu lado. Neste segundo mandato a
composição com Renato (Gouveia) foi também muito tranquila. Ele é uma pessoa
capacitada para gerir os interesses do município se houver qualquer
necessidade. Renato tem experiência política e administrativa. O município de
Tangará da Serra tem ai o orgulho de ter pessoas que são da melhor estirpe para
conduzir o interesse coletivo. E é com essa equipe que vamos trabalhar pelo
melhor para a população. Nós temos algumas prioridades como é o caso da saúde.
Nós iremos concluir a construção do hospital equipando-o com todos os serviços.
UTI e centro cirúrgico, por exemplo. Iremos concluir a obra do aeroporto para
que se possibilite a utilização dele pela aviação comercial, com voos
regulares, interligando Tangará a outros centros. Queremos também chegar ao
mais próximo possível da universalização da educação infantil. O ensino
fundamental já está universalizado. A universalização do ensino médio é do
estado, mas nós estamos colaborando como parceiro. Vamos construir mais quatro
ou cinco creches para atender o déficit. Iremos também celebrar convênios com o
estado para utilização de espaços ociosos de escolas estaduais para utilização
da educação infantil nos horários ociosos, como também cederemos espaços em
nossas escolas municipais para o estado desenvolver o ensino de jovens e
adultos no horário noturno. Vamos trabalhar para universalizar a pavimentação
asfáltica na cidade. E a novidade é que pretendemos encaminhar o asfalto a
partir da cidade para algumas estradas da zona rural. Exemplos, a estrada do
ararão, a do aterro sanitário, todo trajeto até a ETA. Recuperaremos todas as
nossas estradas rurais como forma de diminuir a possibilidade de assoreamento
dos córregos. Vamos investir na agricultura familiar com vistas a ter uma
fixação maior do homem do campo, etc.
O senhor pensa em disputar futuramente
uma vaga no legislativo estadual ou federal?
Na
verdade eu pretendo cumprir este mandato integralmente. Tudo está nas mãos de
Deus. Depende Dele. Ele é quem sabe o que quer da gente. Pra frente, é outra
história.
O médio
norte precisa ter representação. E eu acredito que Tangará deva avançar na
questão de representação regional. Uma das importantes regiões de Mato Grosso
ainda sem representação na Câmara Federal é Tangará da Serra. Precisamos avançar
nesta questão. Hoje, nós temos representação com a assunção de Ságuas no
noroeste e Ezequiel (Fonseca) na região Oeste. Tangará da Serra e municípios vizinhos
têm potenciais para eleger um deputado federal e dois ou três deputados
estaduais. Sou favorável a uma oxigenação na política local.
“Oxigenação” quer dizer troca de nomes
para ocuparem vagas no legislativo estadual, por exemplo?
Estou
me referindo a “oxigenar” o pensamento do eleitor. Também não estou falando de
troca de nomes, mas de ampliação. O eleitor local precisa validar essa questão
colaborando com a eleição de pessoas de nossa região.
Em todas as eleições testemunhamos um
forte fatiamento de votos com candidatos de outras regiões. O que o senhor
pensa disso?
O fatiamento
de votos aqui da nossa região acaba facilitando que sejam eleitos deputados de
outras regiões com votação significativa. Depois o retorno que eles dão não é
proporcional. Com isso não quero dizer que eles também não tenham contribuído com
o município. Nós recebemos emendas dos deputados Ságuas, Ezequiel, Galli,
Adilton Sachetti, Bezerra, Fábio Garcia, Valtenir. Não posso reclamar de mais. Mas
não é como se tivéssemos um deputado federal de nossa região. Dentro de nosso
grupo política há nomes diversos, como o Renato, a Edna Campos. Assim como
teremos bons nomes para eleições futuras.
Fábio Junqueira é um nome para 2022?
Risos
...Pode ser sim. Se Deus nos der bom tempo.
Obrigado prefeito Fábio pela atenção e
entrevista cedidas ao Diário de Tangará!
Eu
que agradeço.