Empresas lideradas por admiradores do presidente Jair
Bolsonaro (PSL) começaram um movimento para cancelar anúncios na Rede Globo e
em grupos associados à emissora. Os cancelamentos vieram depois da reportagem
do Jornal Nacional que revelou o depoimento do porteiro do condomínio de
Bolsonaro, que associava indiretamente o presidente ao assassinato da vereadora
Marielle Franco.
Depois da reportagem, exibida na terça-feira, Bolsonaro, em
uma live direto da Arábia Saudita, acusou a Globo de persegui-lo, disse que a
emissora faz um jornalismo canalha e, exaltado, chegou a cogitar a não
renovação da concessão da emissora.
Nesta sexta (1), começou a circular na Internet um
comunicado da Habitec, uma imobiliária de Curitiba, anunciando que deixaria de
renovar seu contrato com a RPC, dona de oito afiliadas da Globo no Paraná.
“Não podemos compactuar com a posição que a Rede Globo vem
tomando em diversos episódios em seu jornalismo. (…) O que temos visto é um
desserviço à nação com uma posição da Rede Globo, a quem vocês são afiliados,
que não soma em nada para que, juntos, saiamos da crise em que nos encontramos.
(…) Tomamos assim a decisão de não mais agregar nossa marca à Rede Globo até
que identifiquemos uma mudança radical em sua postura jornalística”, diz o
texto.
Supermercados Condor
Um grupo empresarial bem maior tomou a mesma decisão. O
Plural apurou que os supermercados Condor deixarão de anunciar nos jornais da
Globo. Por nota, a assessoria do grupo confirmou a decisão.
“Em vista do posicionamento duvidoso da Rede Globo em
relação à pessoa do nosso Presidente da República, comunico que hoje tomamos a
decisão em nossa empresa de cancelar nossas inserções em todo o jornalismo
nacional da emissora. Entendemos que em vista da franca recuperação econômica
do nosso país, a emissora não deve ser somente imparcial, mas também não deve
dar publicidade a notícias sensacionalistas, que só servem de especulação e
municiam os que se opõem ao progresso do nosso Brasil”, diz o texto (leia a
íntegra abaixo).
O Condor já atuou a favor de Bolsonaro na eleição, com um
pedido de votos aos funcionários que levou inclusive a empresa a ser
repreendida pelo Ministério Público do Trabalho.
Um terceiro grupo que se posicionou sobre o tema foi a
Bocchi Agronegócios, que publicou em suas redes sociais uma nota de repúdio à
Globo.
Bolsonaro versus imprensa
A briga de Bolsonaro com a imprensa é antiga. Toda vez que
recebe uma crítica ou é alvo de denúncia, o presidente tem se dito perseguido
pelos meios de comunicação. Já antes da posse, proibia veículos de participarem
de suas coletivas e, recentemente, chegou a dizer que não falaria mais com
repórteres porque, supostamente, sempre deformavam o que ele dizia.
A reportagem desta terça no Jornal Nacional mostrou que o
porteiro do condomínio em que o presidente mora, no Rio de Janeiro, disse à
polícia que, no dia do assassinato de Marielle, dois acusados de participação
no crime se reuniram no local, e que a pessoa teria pedido para ir à casa do
presidente.
Bolsonaro nega veementemente qualquer participação no crime,
disse que o painel da Câmara prova que neste dia estava em Brasília e, numa
atitude que pode inclusive ser tomada como obstrução da Justiça, pegou para si
os arquivos de áudio e registros da guarita do condomínio. Segundo ele, fez
isso para que ninguém adultere o material.
A Folha de S.Paulo fez uma reportagem apontando a pressa da
perícia usada pelo Ministério Público para desmentir o porteiro. Como
consequência, Bolsonaro disse também que todas as repartições do governo
federal estão cancelando as assinaturas da Folha.
Leia a íntegra da nota do Condor:
Caros amigos,
Em vista do posicionamento duvidoso da Rede Globo em relação
à pessoa do nosso Presidente da República, comunico que hoje tomamos a decisão
em nossa empresa de cancelar nossas inserções em todo o jornalismo nacional da
emissora, isto é, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional, bem como de
programas que vão contra os princípios e valores familiares.
Entendemos que em vista da franca recuperação econômica do
nosso país, a emissora não deve ser somente imparcial, mas também não deve dar
publicidade a notícias sensacionalistas, que só servem de especulação e
municiam os que se opõem ao progresso do nosso Brasil ou que deponham contra a
instituição familiar.
E essa será nossa posição, até que a emissora assuma uma
postura mais justa, de acordo com a vontade da maioria da população, que elegeu
o nosso atual presidente, pois na era negra em que vivemos sob a administração
petista a emissora não agia da mesma forma.
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