Ao menos 170 pessoas foram assassinadas em apenas uma
semana, no Ceará. Dados divulgados hoje (25), pela secretaria estadual da
Segurança Pública e Defesa Social, revelam que o número de homicídios dolosos
(quando o assassino age com a intenção de matar), feminicídios e latrocínios
(furto seguido de morte) deu um salto depois que parte dos policiais militares
cearenses deflagaram um motim que entra hoje em seu oitavo dia.
A categoria, incluindo policiais que continuam trabalhando
normalmente, rejeita a proposta de reajuste salarial apresentada pelo governo
estadual e cobra melhores condições de trabalho.
Só ontem (24), foram registrados 23 Crimes Violentos Letais
Intencionais no estado. Número quase sete vezes maior que os três assassinatos
registrados na segunda-feira (17) anterior, véspera do início do motim que já
produziu cenas de PMs ocupando unidades militares, homens mascarados esvaziando
pneus de viaturas e determinando que comerciantes fechassem estabelecimentos
comerciais. Em Sobral, o senador licenciado Cid Gomes (PDT-CE) foi baleado na
última quarta-feira (19), ao usar uma retroescavadeira para tentar desocupar um
batalhão da PM tomado por policiais.
A secretaria vem divulgando o número de crimes registrados
dia após dia, ao longo da última semana, para demonstrar o impacto do motim
policial. Na terça-feira (18), dia em que teve início os protestos militares,
foram registrados cinco assassinatos – dois a mais que na véspera. Já na
quarta-feira (19), o número de ocorrências saltou para 29. Na quinta-feira (20)
foram 22 registros. Na sexta-feira (21), houve o maior número de vítimas até o
momento: 37. A partir daí, os ocorrências diárias passaram a cair: no sábado
(22) foram 34; no domingo (23), 25, e, ontem, 23 casos.
Legalmente, policiais militares são proibidos de fazer
greve, motivo pelo qual os protestos da categoria são classificados como motim.
Na sexta-feira (21), o governo cearense afastou por 120 dias 167 policiais
militares que participam da paralisação. Os agentes deverão entregar
identificações funcionais, distintivos, armas, algemas, além de quaisquer
outros itens que os caracterizem nas suas unidades e ficarão fora da folha de
pagamento a partir deste mês de fevereiro.
Os inquéritos militares instaurados contra os agentes
afastados serão julgados pela Justiça Militar. Já os procedimentos
administrativos disciplinares serão realizados pela Controladoria-Geral de
Disciplina (CGD) da própria Polícia Militar.
A pedido do governo cearense, mais de uma centena de
policiais da Força Nacional desembarcaram em Fortaleza na última quinta-feira
para reforçar a segurança. No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro autorizou
o emprego de até 2,5 mil militares das Forças Armadas no estado. O decreto de
Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi publicado em edição extra do Diário
Oficial da União e vale pelo período de 20 a 28 de fevereiro, prazo que pode
ser prorrogado. Policiais rodoviários federais também reforçarão o patrulhamento
ostensivo.
Ontem, uma comitiva integrada pelos ministros da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro, da Defesa, Fernando Azevedo, e da
Advocacia-Geral da União (AGU), André Mendonça, visitou o estado. Ao conversar
com jornalistas, Moro disse que a situação está sob controle e que espera que a
paralisação de parte dos policiais militares do estado seja resolvida
brevemente.
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