É sério um país onde o ex-chefe da polícia muda de lado e ganha fortunas para questionar a legalidade das operações dessa mesma polícia?
Por Francisco Carlos Garisto
Quando o ex-presidente da França, Charles de Gaulle, afirmou nos anos 60 que o Brasil não era um país sério, muitos “nacionalistas” protestaram, mas quando nos deparamos com fatos que atestam a veracidade da frase temos que, infelizmente, nos calar e vestir a carapuça.
Observando somente esta semana os noticiários da mídia brasileira, podemos afirmar que a frase do velho general não era profética, era real.
Por exemplo:
O ex-ministro da justiça Márcio Thomaz Bastos, até pouco tempo foi o ministro da justiça do Brasil e tinha subordinada ao seu comando a Polícia Federal. Durante a sua gestão a Polícia Federal desencadeou centenas de grandes e holofóticas operações contra megaempresários, superdoleiros, grandes empreiteiras e portadores dos mais polpudos “colarinhos brancos” das falcatruas nacionais e internacionais.
Como ministro da justiça sabia todos os pormenores dessas operações, e claro, sabia de acontecimentos estratégicos dos pormenores operacionais que envolvem investigações desse naipe. Pois bem, passado um curto período chamado de quarentena, que na verdade é uma desculpa para legalizar os procedimentos futuros, o Dr. Márcio Thomaz Bastos é hoje o mais requisitado pelos super réus das operações da PF para defendê-los em juízo como advogado.
Matéria espetacular escrita pelo jornalista Cláudio Júlio Tognolli para o Brasil 247 (leia aqui) esmiuçou essa relação nada ética do ex-ministro da justiça.
Acredito que um país sério teria uma lei proibindo que ex-ministros portadores de informações estratégicas pudessem “assessorar” ou até advogar para réus que antes ajudou e comandou as prisões deles.
O advogado Márcio Thomas Bastos deveria ser proibido legalmente de bater o escanteio e ele mesmo fazer o gol de cabeça, usando o parâmetro futebolístico tão apreciado pelo nosso ex-presidente Lula.
Deveria haver uma lei de verdade que proibisse essa prática no mínimo antiética e não uma quarentena de mentira. Deveria haver uma proibição definitiva, afinal, um juiz não pode julgar suspeitos, em casos que tenha atuado anteriormente como advogado. Tem o dever legal e ético de se julgar suspeito e impedido. Qual a diferença no caso do comportamento do advogado e ex-ministro da justiça Márcio Thomas Bastos?
O outro caso satírico dessa semana diz respeito ao delegado da polícia civil do Rio de Janeiro, Carlos Oliveira. Preso acusado de tráfico de armas e de chefiar milícias na zona norte do Rio de Janeiro, disse em “palestra” que foi vítima de um complô e acusou a atual direção da Polícia Federal no Estado de ter feito uma investigação "racista e direcionada" contra ele por ser negro. Oliveira foi a principal autoridade policial do Rio entre os 38 agentes civis e militares presos durante a Operação Guilhotina da PF.
Diante do escândalo da prisão do delegado Oliveira que comandava desde o início do ano a SEOP(subsecretaria de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública) e é ex-subchefe operacional da Polícia Civil, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ decidiu criar uma CPI para apurar o tráfico de armas no Rio de Janeiro, intimando o delegado preso pela PF, para falar sobre as acusações que são feitas contra ele.
Pois bem, o delegado compareceu na ALERJ municiado de aparelhos de transparências e outros equipamentos usados por palestrantes e com a maior candura do mundo, ao invés de ser interrogado pela CPI, acabou dando uma palestra sobre o tráfico de armas e drogas no Rio de Janeiro, sob a sua ótica e visão de defesa.
Então vejamos: um ex-ministro da justiça que defendia com unhas e dentes as ações da PF contrariando e enfrentando até a Ordem dos Advogados do Brasil- OAB, que um dia presidiu nacionalmente, hoje é o maior acusador das “arbitrariedades” e erros eventuais cometidos pelos policiais federais nas prisões dos seus agora clientes advocatícios?
Um delegado preso e acusado de tráfico de armas e de fazer partes de milícias assassinas deixa de ser suspeito e se transforma em um palestrante brilhante para dezenas de abestalhados deputados cariocas?
Podem falar o que quiserem sobre a frase do velho general francês Charles de Gaulle. Até dizem que ele não proferiu essa frase, como defendem alguns, não podemos afirmar com certeza que ele realmente tenha dito isso sobre o Brasil, mas o fato é que pelos fatos incomuns que acontecem em nosso país, a frase acabou sendo absorvida como verdadeira, já que a dúvida permanece.
O Brasil é definitivamente um país sério?
• Francisco Carlos Garisto é policial federal
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