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Inquérito revela que Neri Geller tinha, sim, lotes no assentamento onde ocorreu a grilagem

Neri Geller
Testemunhas ouvidas pelo Ministério Público Federal, na investigação sobre um esquema de grilagem de terras descoberto pela operação Terra Prometida, incriminam o ministro da Agricultura Neri Geller. Em razão disso, parte do inquérito sobre caso foi desmembrada e enviada para o Supremo Tribunal Federal, que é a instância competente para julgar ministros de Estado.

Na tarde desta sexta-feira (28), o juiz federal Fábio Henrique Fiorenza colocou fim ao sigilo do inquérito. Além do ministro, as investigações chegaram aos nomes dos deputados José Riva e Dilmar Dal Bosco, além dos prefeitos de Itanhangá, João Antonio Vieira, e de Ipiranga do Norte, Pedro Ferronato.

Na última quinta-feira, dois irmãos do ministro, os agricultores Odair e Milton Geller, se apresentaram a Polícia Federal. Eles estavam com a prisão preventiva decretada e prestaram depoimento ontem. A dupla está no presídio do Carumbé, na Capital. Ao todo, 33 pessoas já foram presas e 19 estão sendo procuradas.

Os irmãos Geller são acusados pelos crimes de invasão de terras da União, fraude majorada, estelionato, organização e associação criminosa e crimes ambientais.


Conforme o magistrado, testemunhas asseguraram que o ministro tinha diversos lotes no assentamento, porém parte dos imóveis teria sido vendida para financiar a campanha para deputado federal em 2010. Parte do financiamento da campanha também teria partido do então prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz, apontado como um dos chefes do esquema.

De acordo com o juiz, o depoimento de Adair dos Santos, ex-funcionário de Neri Geller, confirmou que o ministro tinha, no mínimo, dois lotes no assentamento e que trabalhara para Neri Geller nos lotes 92 e 93. “Trabalhei com extração de madeira, tirando tora. Na época eu tirava, por exemplo, duzentos metros cúbicos de madeira, mas ficava com setenta ou oitenta metros cúbicos de madeira como forma de pagamento e o restante ficava com o Grupo Geller. Que do grupo Geller, o depoente tinha contato com Neri Geller”, consta no processo.

Segundo o juiz, o ministro usaria da sua influência política para pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a fazer vista grossa sobre a região. “Por isso, Neri Geller, na condição de Ministro da Agricultura, tem se empenhado tanto em pressionar o superintendente do Incra, através do presidente do Incra de Brasília.”

Segundo o magistrado, mesmo após tomar posse do cargo de ministro, Neri continuava a gerenciar os negócios da família. “A empresa, só no papel, é do grupo Geller, pois quem comanda e é dono na verdade é Neri Geller, pois os outros irmãos ajudam a administrar, não só essa empresa, mas as outras empresas, como supermercado, instaladora, fazenda, entre outros. Que na prática tudo é de Neri Geller e não do grupo, já que Neri não pode aparecer.”

As testemunhas afirmaram que o grupo Geller teria entre 15 e 20 lotes no projeto de assentamento, sendo que cada propriedade vale aproximadamente R$ 1 milhão. As testemunhas também apontaram que as áreas foram completamente desmatadas pelos Geller.

Conforme o juiz, a irmã do ministro, Clarisse Geller, que é funcionária pública, também foi apontada como uma das beneficiárias no programa de assentamento do governo federal. Assim como o irmão Antonio Geller e parentes distantes. Até mesmo a empregada doméstica do ministro seria laranja no esquema de grilagem.


O magistrado afirmou que o clima na região ficou mais tenso após a divulgação da operação, e que os suspeitos aumentaram as ameaças. “Não é demais acrescentar que se estabeleceu na região um clima generalizado de medo e insegurança. Dos termos de declarações vislumbra-se que testemunhas importantes e suas famílias estão sofrendo reiteradamente ameaças de morte, o que exigiu urgência na apreciação do caso.” Diário de Cuiabá

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