FONTE: O Povo
As discrepâncias entre regiões no resultado da eleição provocaram onda de ofensas a nordestinos, das piadas de mau gosto ao preconceito sem máscaras. Como canal desse sentimento, gravuras do Brasil sem o Nordeste se espalharam nas redes sociais. O que hoje é brincadeira para propagar hostilidade e discriminação já foi parte de um projeto político para a região.
As discrepâncias entre regiões no resultado da eleição provocaram onda de ofensas a nordestinos, das piadas de mau gosto ao preconceito sem máscaras. Como canal desse sentimento, gravuras do Brasil sem o Nordeste se espalharam nas redes sociais. O que hoje é brincadeira para propagar hostilidade e discriminação já foi parte de um projeto político para a região.
Ao longo de mais de 200 anos, houve
possibilidade real de construir um território à parte em estados que hoje
compõem essa parte do País. Correu muito sangue para evitar que isso
acontecesse. A última delas deixou marcas inclusive no Centro de Fortaleza.
Do que hoje chamamos Nordeste - no que eram
conhecidas na época como “províncias do norte” - veio uma das primeiras ameaças
à unidade do País que ainda lutava para se consolidar como independente.
No fim de 1823, dom Pedro I dissolveu a
primeira Constituinte do Brasil e outorgou uma constituição centralizadora, que
tirava poderes das províncias. A revolta se espalhou pelo País, com ênfase em
Pernambuco, onde havia ecos da revolução de 1817. Em 1824, eclodiu a
Confederação do Equador, movimento separatista, antiabsolutista, cujo objetivo
era criar uma república nas proximidades da linha do equador.
O Ceará nessa época era área de influência
política pernambucana. As duas províncias haviam sido vinculadas até 1799.
Desde os primórdios da colonização, o território pernambucano era importante
polo da economia brasileira. Já a importância cearense era desde sempre
periférica. Mesmo assim, o Ceará foi o principal aliado dos movimentos rebeldes
que eclodiram no estado vizinho no começo do século XIX.
Além de Ceará e Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte aderiram à Confederação. Houve apoio também em Campo Maior e
Parnaíba, no Piauí.
Os líderes da Confederação esperavam adesão
de Alagoas - que até poucos anos antes era parte da província de Pernambuco - e
Sergipe, que acabara de se emancipar da Bahia. Em Sergipe, o presidente da
província, Manuel Fernandes da Silveira, acabaria deposto acusado de colaborar
com os revoltosos.
A região que, por volta de meados do século
XX, passou a ser chamada de Nordeste foi o centro da economia durante a maior
parte do período colonial. Perdeu o protagonismo com a descoberta de ouro em
Minas Gerais. Mas manteve papel crucial na agricultura, não só com a
cana-de-açúcar, mas também com o algodão e o couro.
O café ainda começava a ganhar espaço na
década de 1820, preparando-se para a explosão dos anos seguintes. Aquele
“Nordeste”, portanto, tinha peso muito maior na economia nacional do que hoje.
O processo de esvaziamento que aprofundaria contrastes regionais estava ainda
no começo.
Durante a Confederação, a Câmara da vila de
Campo Maior, atual Quixeramobim, chegou a declarar, em 8 de janeiro, destituído
dom Pedro I e proclamar a República.
A reação ao projeto de dividir o Brasil foi
furiosa. Foi contratado o mercenário inglês Thomas Cochrane, lorde do império
britânico, herói das guerras napoleônicas, que servira a dom Pedro na repressão
aos movimentos contra a independência. Em setembro de 1824, Recife se rendeu
depois de um banho de sangue. O Ceará continuou a lutar. Vilas foram saqueadas
e incendiadas. Cadáveres insepultos se amontoavam. A chegada de Cochrane a
Fortaleza, em 1824, levou muitos revoltosos a se renderem.
No antigo Campo da Pólvora, atual Passeio
Público, foram executados Padre Mororó, Pessoa Anta, Feliciano Carapinima e
outros líderes. Por isso, o lugar é conhecido também como Praça dos Mártires.
Houve ainda condenados ao degredo na Amazônia ou a trabalhos forçados em
Fernando de Noronha. Foi o fim do sonho de uma república equatorial no
Nordeste.
SAIBA MAIS
1. Desde os primeiros anos da colonização, o
atual Nordeste foi alvo de disputa, cobiça e guerra. E Portugal esteve por um
fio de perdê-lo. No começo do século XVII, após serem expulsos do atual
Sudeste, franceses tomaram o que hoje é São Luís (MA). Expulsos, fundaram a
Guiana Francesa.
2. Em 1624, os holandeses que tentaram tomar
o Nordeste. Nas décadas de permanência, transformaram a história de Fortaleza e
Pernambuco.
LER
Confira a ata da sessão da Câmara da atual
Quixeramobim que proclamou a República http://bit.ly/1qbPxfN
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