Mais de R$ 1,1 bilhão em multas foram aplicados pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Mato
Grosso devido a infrações ambientais envolvendo a flora local. Os valores são
referentes ao desmatamento, queimadas em áreas de floresta e extração de
madeira. Todas as multas foram aplicadas devido à ausência de licença ou
irregularidade nestes documentos. De acordo com o órgão, das cidades mais
atingidas pelo desmatamento estão Feliz Natal, União do Sul e Gaúcha do Norte.
Superintendente substituto do Ibama em Mato Grosso, Allan Valezi
Jordani explica que as ações de desmatamento, queimada e extração estão
previstas na lei brasileira, porém, para que sejam executadas, há a necessidade
da emissão de licenças junto aos órgãos de meio ambiente. O profissional
explica que para a liberação destes documentos, o proprietário deve apresentar
projeto que comprove a necessidade de tal degradação. “Estas são infrações
frequentes em Mato Grosso, que figura hoje como um estado agrícola e que ainda
depende da exploração primária”.
Em relação à coleta de dados, Jordani informa que as
irregularidades são acompanhadas tanto por fiscalizações in loco, como também
por sistemas de satélites que detectam diariamente as áreas que são agredidas
pela ação humana.
Atualmente, existem dois sistemas, que são disponibilizados pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que são utilizados pelo
Ibama. Um deles é o Deter, que expede alertas de desmatamento, indicando os
locais que dessa forma precisam de vistoria dos profissionais do Instituto. Já
o sistema Prodes é o
responsável por consolidar os dados também relacionados ao
desmatamento. “São sistemas que contribuem para o nosso trabalho e que estão
inteiramente ligados”.
Mesmo com a tecnologia favorável à repressão de infrações
ambientais, Jordani afirma que a denúncia anônima continua sendo um dos canais
mais eficientes para o combate ao desmatamento, queimada e extração de madeira.
Atualmente, o Ibama conta com o “Linha Verde”, contato gratuito (0800 61 8080),
em que a população pode denunciar todos os tipos de infrações envolvendo o meio
ambiente.
O superintendente garante que as ligações não são reveladas.
“Quando há uma denúncia, essa é registrada em nosso sistema e enquanto não há
verificação, fica como pendência a ser resolvida. O Ibama precisa muito da
ajuda da população. São vizinhos e moradores das mais variadas regiões, que
conseguem presenciar este tipo de delito”.
OPERAÇÕES - Com objetivo de combater o desmatamento no Estado, o Ibama
desenvolve operações regulares. Uma delas é a “Onda Verde”, que tem duração de
12 meses e prioriza as áreas mais críticas. Para atuar no combate, equipes de
todo país se revezam entre os estados e atuam embargando áreas irregularmente
desmatadas.
Já a operação “Comodities” acontece duas vezes aos ano, sendo
realizada nas fases de plantio e colheita agrícola. O principal objetivo é
apreender produtos produzidos irregularmente em áreas já embargadas pelo
Instituto, além de também serem realizadas autuações. Para 2015, o Ibama já
planeja desencadear a operação chamada “Boi Pirada”, que pretende apreender
animais que são criados em áreas embargadas ou Terras Indígenas, sendo que
estes serão doados para programas sociais.
AÇÕES - Das ações realizadas pelo Ibama em Mato Grosso durante o
ano de 2014, destacam-se as operações ocorridas em Terras Indígenas, que
promoveram o combate à caça, pesca predatória, desmatamento, furto de madeira e
operação de garimpos ilegais. Em uma das operações, o Ibama chegou a embargar
61,5 mil hectares e aplicou mais de R$ 2 milhões em multas por desmatamento e
descumprimento a embargos anteriores. Tal fato foi registrado no município de Brasnorte, na
TI Manoki. Uma das fazendas presentes na região, por exemplo, chegou a ser
classificada como latifúndio, pois contava com mais de 50 mil hectares. De
acordo com o Ibama, o local era maior que a TI Irantxe. O espaço rural estava
embargado desde 2005, porém continuava em uso.
No município de Gaúcha do Norte, terceiro do Estado com maior
índice de desmatamento, o Ibama conseguiu autuar engenheiros e apreender
máquinas, como também multar os proprietários da área em R$ 5 mil por hectare
devastado. Os laudos apresentados pelos responsáveis técnicos diziam que a
extração havia sido realizada para retirar plantas oportunistas e invasores,
mas que na verdade a mata nativa havia sido derrubada. Tais áreas faziam parte
da reserva legal das propriedades alvo da operação e passaram por extração de
madeira seguida de queima para aumentar o espaço aberto para cultivo de grãos.
SEMA - Enquanto as ações do Ibama resultaram em mais de R$ 1,1
bilhão em multas, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema/MT) emitiu R$
127,3 milhões em multas em 2014. Do total aplicado, R$ 71,6 milhões foram
relacionados ao desmatamento local e R$ 19,2 milhões em relação a queimadas.
Segundo o superintendente de Fiscalização, coronel Agnaldo Pereira de Souza, a
expansão da agricultura e pecuária ainda figura como principal justificativa
para a prática das infrações.
Segundo ele, quando constatada a irregularidade, é lavrado-se auto
de infração. Este resulta em um processo administrativo junto à Sema e também
inquérito policial. Souza informa que o desmate de áreas verdes está previsto
em lei, porém reforça a necessidade de projetos para estes serem autorizados.
“Mesmo com autorização do órgão estadual, durante o período proibitivo de
queimadas (julho a setembro), é estritamente proibido qualquer ação contra o
meio ambiente. Nesta época do ano, todas as situações fiscalizadas geram autos
de infração e multas”.
O coronel explica que além dos prejuízos ao meio ambiente, as
queimadas e desmate de áreas provocam
impacto não apenas local, mas em toda região. “A fumaça, por
exemplo, não tem limites, a qualidade do ar e o solo ficam prejudicados, além
disso há também a saúde das pessoas e o mal social que estes delitos causam”.
0 Comentários