Com informações da IstoÉ
Uma conta bancária
na Suíça, conhecida como "Marília", foi usada para movimentar as
propinas que azeitaram os negócios da Siemens e da Alstom com governos do PSDB,
em São Paulo. Por ela, transitaram cerca de R$ 64 milhões em propinas e os
recursos foram gerenciados por homens da cozinha dos governos de Mario Covas,
em São Paulo, e até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Este é o tema
de uma reportagem bombástica da revista Istoé, que acaba de chegar às bancas. Até agora, o procurador
Rodrigo de Grandis reluta em denunciar tucanos indiciados pela Polícia Federal.
Será que vai manter a conduta?
O Portal Metrópole
revelou quem eram as autoridades e os servidores públicos que participaram do
esquema de cartel do Metrô em São Paulo, distribuíram a propina e desviaram
recursos para campanhas tucanas, como operavam e quais eram suas relações com
os políticos do PSDB paulista.
Agora, com base
numa pilha de documentos que o Ministério da Justiça recebeu das autoridades
suíças com informações financeiras e quebras de sigilo bancário, já é possível
saber detalhes do que os investigadores avaliam ser uma das principais contas
usadas para abastecer o propinoduto tucano. De acordo com a documentação obtida
com exclusividade, a até agora desconhecida “conta Marília”, aberta no Multi
Commercial Bank, hoje Leumi Private Bank AG, sob o número 18.626, movimentou
apenas entre 1998 e 2002 mais de 20 milhões de euros, o equivalente a R$ 64
milhões. O dinheiro é originário de um complexo circuito financeiro que envolve
offshores, gestores de investimento e lobistas.
Uma análise
preliminar da movimentação da “conta Marília” indica que Alstom e Siemens
partilharam do mesmo esquema de suborno para conseguir contratos bilionários
com sucessivos governos tucanos em São Paulo. Segundo fontes do Ministério
Público, entre os beneficiários do dinheiro da conta secreta está Robson
Marinho, o conselheiro do Tribunal de Contas que foi homem da estrita confiança
e coordenador de campanha do ex-governador tucano Mário Covas. Da “Marília” também
saíram recursos para contas das empresas de Arthur Teixeira e José Geraldo
Villas Boas, lobistas que serviam de intermediários para a propina paga aos
tucanos pelas multinacionais francesa e alemã.
Até 2003 conhecido
como Multi Commercial Bank, depois Safdié e, a partir de 2012, Leumi Private
Bank AG, a instituição bancária tem um histórico de parcerias com governos
tucanos. Em investigações anteriores, o MP já havia descoberto uma outra conta
bancária nesse banco em nome de Villas Boas e de Jorge Fagali Neto,
ex-secretário de Transportes Metropolitanos de SP (1994, gestão de Luiz Antônio
Fleury Filho) e ex-diretor dos Correios (1997) e de projetos de ensino superior
do Ministério da Educação (2000 a 2003) na gestão Fernando Henrique Cardoso.
Apesar de estar fora da administração
paulista numa das épocas do pagamento de propina, Fagali manteria, segundo a
Polícia Federal, ascendência e contatos no governo paulista. Por isso, foi
indiciado pela PF sob acusação de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
evasão de divisas. Fagali Neto também é irmão de José Jorge Fagali, que
presidiu o Metrô na gestão de José Serra. José Jorge é acusado pelo MP e pelo
Tribunal de Contas Estadual de fraudar licitações e assinar contratos
superfaturados à frente do Metrô.
Para os
investigadores, a “conta Marília” funcionaria como uma espécie de “conta
master”, usada para gerenciar recursos de outras que, por sua vez, abasteceram
empresas e fundações de fachada, como Hexagon Technical Company, Woler
Consultants, Andros Management, Janus, Taltos, Splendore Associados, além da já
conhecida MCA Uruguay e das fundações Lenobrig, Nilton e Andros. O MP chegou a
pedir, sem sucesso, às autoridades suíças e francesas o arresto de bens e o
bloqueio das contas das pessoas físicas e jurídicas citadas. Os pedidos de
bloqueio foram reiterados pelo DRCI, mas não foram atendidos. Os investigados
recorreram ao STJ para evitar ações similares no Brasil.
O MP já havia
revelado a existência das contas Orange (Laranja) Internacional, operada pelo MTB
Bank de Nova York, e Kisser (Beijoqueiro) Investment, no banco Audi de
Luxemburgo. Ou seja, “Marília” é mais um nome próprio no dicionário da
corrupção tucana. Sabe-se ainda que o cartel operado pelas empresas Siemens e
Alstom, em companhia de empreiteiras e consultorias, usava e-mails cifrados.
Os novos dados
obtidos pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional
(DRCI) do Ministério da Justiça dão combustível para o aprofundamento das
investigações no Brasil.
Além do processo administrativo aberto
pelo Cade sobre denúncia de formação de cartel nas licitações de São Paulo e do
Distrito Federal, outras duas ações sigilosas, uma na 6ª Vara Federal Criminal
e outra na 13ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, apuram crimes contra o sistema
financeiro, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa. Além de altos
funcionários do Metrô, como os já citados Lavorente e Fagali, as investigações
apuram a participação do ex-secretário de Energia e vereador Andrea Matarazzo,
em razão de contratos celebrados entre a Companhia de Energia de São Paulo
(CESPE) e a Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica S.A. (EPTE).
Na documentação
encaminhada pelo DRCI ao MP de São Paulo, a pedido do promotor Silvio Marques,
também constam novos dados bancários de vários executivos franceses, alemães e
brasileiros que tiveram algum tipo de participação no esquema de propinas. São
eles os franceses Michel Louis Mignot, Yves Barbier de La Serre, André Raymond
Louis Botto, Patrick Ernest Morancy, Jean Pierre Antoine Courtadon e Jean
Marcel Jackie Lannelongue e os brasileiros José Amaro Pinto Ramos, Sabino
Indelicato e Luci Lopes Indelicato, além do alemão Oskar Holenwger, que operou
em toda a América Latina. Na Venezuela, Holenwger é citado junto a Mignot, La
Serre, Morancy e Botto em investigação sobre lavagem de dinheiro, apropriação
indébita qualificada, falsificação de documentos e suposta corrupção de
funcionários públicos do setor de energia.
O apoio das
autoridades de França e Suíça às investigações brasileiras não tem sido tão
fácil, e a cooperação é mais recente do que se pensava. O Ministério da Justiça
chegou a pedir o compartilhamento de informações ainda em 2008 – auge da
investigação da Siemens e da Alstom. Mas não foi atendido.
Os franceses lembraram que, nos termos
do acordo bilateral, a cooperação só pode se desenrolar por via judicial. Dessa
forma, foi necessário notificar o Ministério Público Federal para que oficiasse
junto à 6ª Vara Criminal Federal e à 13ª Vara da Fazenda Pública. O
compartilhamento só foi efetivado em dezembro de 2010.
A Suíça, ainda em
março de 2010, solicitou a cooperação brasileira na apuração das denúncias lá,
uma vez que parte do dinheiro envolvido nas transações criminosas teria sido
depositada em bancos suíços. Os primeiros dados, relativos à empresa MCA e ao
Banco Audi de Luxemburgo, chegaram ao Brasil em julho de 2011.
Foram solicitadas ainda oitivas
com determinadas testemunhas, o que foi encaminhado ao MPF em São Paulo e à
Procuradoria Geral da República (PGR). Paralelamente, a Polícia Federal abriu o
inquérito nº 0006881-06.2010.403.6181, mas só no último dia 25 de julho o
procurador suíço enviou às autoridades os dados bancários solicitados, por meio
de uma decisão denominada “conclusive decrees”, proferida em 14 e 24 de junho.
Foi com base nisso que a Suíça já bloqueou cerca de 7,5 milhões de euros que
estavam na conta conjunta de Fagali e Villas Boas, no Safdié. Tratou-se de uma
decisão unilateral suíça e a cifra não é oficial – foi fornecida ao Ministério
da Justiça por fonte informal. A Suíça só permite o uso dos dados enviados em
procedimentos criminais.
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