Sinto febre alta e dor de cabeça. Se eu perguntar ao Google, ele vai me dizer que pode ser uma simples gripe, mas também há a possibilidade de se tratar de um caso de dengue. Ou então meningite. E quem sabe hepatite E? Que atire a primeira pedra quem nunca recorreu à internet diante dos primeiros sinais de que algo no seu corpo talvez estivesse errado.
Esse hábito é tão comum, que pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, decidiram analisá-lo para entender seus impactos na vida das pessoas.
“Frequentemente, eu recebo pacientes que só vieram até o meu consultório porque pesquisaram alguma coisa no Google e a internet disse que eles têm câncer”, relata, em nota, David Levine, um dos autores da investigação. “Eu pensei: isso acontece com todos? Quanta cibercondria [ansiedade resultante de buscas online relacionadas à saúde] a internet está criando?”, questiona.
Publicado no periódico JAMA Network Open no último dia 29 de março, o estudo contou com 5 mil pessoas e utilizou descrições de doenças que costumam afetar a população, como viroses, ataque cardíaco e derrame. Cada participante teve que ler uma lista de sintomas e imaginar que eles se aplicavam a alguém próximo, como um amigo ou familiar. Em seguida, os indivíduos forneceram um diagnóstico com base nas informações dadas. Depois, eles procuravam os sintomas na internet e apresentavam novamente um veredicto.
Após identificar qual seria a condição correspondente aos sintomas, os participantes selecionaram um grau de triagem para cada caso, variando entre “deixe o problema de saúde melhorar por conta própria” e “ligue para a emergência”. Além disso, foi solicitado que os indivíduos registrassem os próprios níveis de ansiedade.
Os pesquisadores concluíram que as buscas online deram uma pequena ajuda às pessoas, que apresentaram diagnósticos mais corretos após recorrerem à internet. Não foi registrada uma melhora na habilidade de escolher a triagem mais adequada e tampouco foram identificadas alterações na ansiedade.
“Nosso trabalho sugere que provavelmente não há problema em dizer aos nossos pacientes para pesquisarem sintomas”, afirma Levine. “Isso começa a formar a base da evidência de que não há tanto perigo e que, na verdade, pode existir alguma vantagem”, complementa.
Apesar disso, os especialistas reconhecem que há uma certa limitação no estudo, uma vez que os participantes imaginaram que os sintomas se aplicavam a algum amigo ou parente. Não se sabe se as pessoas agiriam da mesma forma caso elas mesmas estivessem sob análise. Além disso, a pesquisa não representa todos os internautas que utilizam a internet para fazer buscas relacionadas à saúde.
Galileu
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