Hoje o país possui 566 “edtechs” – termo usado para identificar
essas empresas – ativas. E 11% delas registraram um aumento de mais de 50% em
seus faturamentos ao longo do ano passado.
Somente 13% delas já conseguiram vender algum de seus produtos para o poder público.
Esses dados estão contidos em um estudo produzido pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) em parceria com a Associação Brasileiras de Startups (ABstartup), divulgado na última quarta-feira (14).
Segundo o levantamento, mais da metade dessas empresas (50,7%) atua na educação básica, ou seja, do ensino infantil ao médio. Elas criam plataformas e desenvolvem ferramentas – tanto de gestão quanto de aprendizagem – e até cursos online e material didático.
Mas uma série de entraves, que vão da burocracia das licitações à falta de treinamento de servidores públicos, impedem que esses recursos cheguem à rede pública de ensino.
Tudo é muito novo
O primeiro desafio que essas empresas enfrentam quando tentam negociar com governos mora no próprio conceito de startup.
Léo Gmeiner, da ABstartup, explica que para ser considerada uma, entre as características que uma empresa precisa ter, está a escalabilidade, ou seja, elas precisam ser focadas em crescer em faturamento e contratos, sem aumentar os custos fixos.
“Por isso, a gente sempre tende a ter menos equipe do que uma empresa tradicional”, ele afirma e completa: “as instituições de ensino não devem estranhar contratar, para uma entrega muito grande, uma empresa que tem uma equipe pequena. É uma característica de ser uma startup”.
Conforme o levantamento do CIEB e da ABstartup, 63,4% das empresas desse segmento no Brasil têm entre 1 e 10 funcionários.
Mas não é só isso. A burocracia dos processos licitatórios para compras públicas também atrapalha. Rafael Camelo, da Plano CDE – empresa responsável pela pesquisa que resultou no estudo – afirma que “falta repertório” aos gestores públicos na hora de elaborar os editais.
Em outras palavras, servidores que trabalham na aquisição de bens e serviços para os governos, em geral, não conseguem descrever as tecnologias que precisam ser compradas. Como resultado há uma maior opção por soluções “tradicionais”, no lugar das digitais, ou até compras equivocadas.
Treinamento e infraestrutura
O estudo do CIEB e da ABstartup mostrou que, da pequena
fatia de empresas que conseguiram negociar com o poder público, cerca de 86%
forneciam softwares para ensino remoto, gestão escolar ou material didático e
cursos online.
Além disso, 79% dos professores (dados da pesquisa TIC Educação 2019) afirmam que falta treinamento para o uso de novas tecnologias em sala de aula. Um problema que leva a outra triste realidade, segundo Camelo: a das escolas que superam as dificuldades da fase de compra e acabam com “elefantes brancos” que nunca são usados.
“Entre a contratação pela secretaria de educação e a sala de aula, há muitas camadas”, ele diz. Um processo que tem custos e que, geralmente, não entram no orçamento de compra.
“Entrega-se a solução, mas esquece-se de contratar a
formação. É muito comum, visitando escolas públicas, encontrar um equipamento
que ficou guardado porque a secretaria entregou e não houve uma orientação de
como usá-lo”, ele completa.
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