Header Ads Widget


Um exemplo de educação conservadora: a pedagogia de Johann F. Herbart

PEDAGOGIA CONSERVADORA, A pedagogia de Johann F. Herbart: um exemplo de educação conservadora?

Por Dorjival Silva

A reconstrução deste debate precisa ser cautelosa, sobretudo, porque nos dias atuais tem-se a tendência de negar muita coisa interessante em nome da redução da educação à perspectiva conservadora. Por exemplo, relativiza-se a formação por meio do conteúdo por conceber a educação focada no conhecimento como sinônimo de educação conservadora. Ou, então, secundariza-se o papel do professor, enfraquecendo-o às vezes ao máximo, por depositar peso exagerado à capacidade de aprender do aluno. Se o aluno aprendesse sozinho, não precisaria de escola e nem de professor!

Que o aluno possui a capacidade de aprender, parece certo e nenhum professor de sã consciência negaria isto. Contudo, que possa aprender por conta própria, sem a orientação do professor e sem o trabalho árduo e permanente sobre o conteúdo, já não é algo tão seguro assim. A questão de fundo é como reconhecer as capacidades de aprendizagem do aluno, tomando tal reconhecimento como princípio pedagógico irrecusável, sem desconhecer o papel ativo do professor e a importância da ênfase dada ao conteúdo.

Educação progressiva tem a ver, portanto, em seu sentido originário, com o respeito pelo papel ativo do sujeito educacional, tomado como educador ou educando. Significa ainda a valorização adequada da matéria de ensino, que se apresenta no processo pedagógico não só como conteúdo, mas também como material ou coisa a ser trabalhado no processo educativo.

Como insistiu Rousseau antes e como insistirá o próprio Dewey depois, a educação se refere sempre a algo, não ocorrendo no vazio e na pura abstração. Como inserir e trabalhar com este algo no processo educativo é uma das grandes questões da Pedagogia, sobretudo, quando a educação se refere à criança e ao jovem. Este algo não é simplesmente objeto ou instrumento, mas sim produção cultural que sempre recebe significação cultural dos envolvidos no processo educativo.

No contexto de defesa da educação progressiva, Dewey foi responsável, de certa maneira, mesmo contra sua própria vontade, pela centralidade excessiva dada à capacidade de aprendizagem do aluno em nome da secundarização do papel do professor e da educação baseada no conteúdo. No afã de defender a posição ativa do educando, muitas vezes secundarizou o papel do educador. Sua crítica à educação conservadora é um bom exemplo deste seu equívoco. Em que sentido?

Ele toma o pedagogo alemão Johann Friedrich Herbart como exemplo de pedagogo conservador, que desenvolveu a teoria educacional conservadora. Reconhece, como intelectual honesto, os méritos pedagógicos de Herbart, afirmando até mesmo que aprendeu muito, em sua formação, com este pedagogo. Cabe lembrar, neste contexto, que as ideias pedagógicas de Herbart chegaram nos Estados Unidos ainda no final do século XIX, influenciando escolas e universidades.

De outra parte, Dewey faz parte do grupo de intelectuais americanos bem formados, que no final do século XIX deixam a América para fazer seus estudos na Europa, especialmente na Alemanha, Inglaterra, e França. Estudam lá com os melhores professores e cientistas da época. Frequentam grandes centros de pesquisa e têm acesso aos bons laboratórios e às boas bibliotecas. Dewey, por exemplo, fez sua tese de doutorado sobre Immanuel Kant, que foi por sua vez a referência filosófica de Herbart.

O grande mérito de Herbart foi, segundo Dewey, ter tirado o ensino do âmbito da espontaneidade, da rotina e do acidente. Deste modo, o pedagogo alemão foi o fundador da teoria moderna do ensino, elaborando os princípios e os métodos da instrução educativa. Foi responsável pela formalização dos passos didáticos, vinculando-os ao desenvolvimento múltiplo das disposições humanas. Com isso, inovou a didática, colocando-a no solo da formação intelectual do educando.

Para Herbart, o processo educativo não pode ocorrer de maneira totalmente espontânea. O aluno aprende muito mais e consegue desenvolver sua potencialidade intelectual se o estudo for orientado metodicamente. É preciso, antes de tudo, educar progressivamente a forma de pensar. Bem na esteira do iluminismo pedagógico moderno, Herbart concebe, como meta central da educação, contribuir para que o educando possa pensar por conta própria. Ele alcança mais facilmente e de maneira mais rápida esta condição de pensar por si mesmo se estiver orientado pelo método de ensino.

Método não significa tão somente procedimento instrumental. Tem a ver, antes de tudo, com o duplo procedimento, de aprofundamento e reflexão. O aprofundamento trata do que é mais simples e está mais próximo do educando. Com isso, exige didaticamente que se deve começar o processo educativo com a experiência de mundo e o convívio social do educando. Ou seja, deve-se partir da experiência do própria educando e respeitando-o é que se pode introduzir novos conteúdos. Parte-se da experiência, mas não se deve permanecer nela.

Ora, é juntamente aí que faz sentido a noção de reflexão. Ela representa a exigência de introdução de novos conhecimentos. Cumpre didaticamente o papel de não permitir que a educação permanece somente naquilo que o educando gostaria de ouvir ou dizer. Reflexão é, então, a forma de aprofundamento do ensino, tirando o educando de sua zona de conforto. Mas o faz, e daí seu sentido didático e pedagógico, sem desrespeitar a condição na qual o educando se encontra.

Respeitar a experiência do educando não significa - e isto precisa ser acentuado – deixar intocada a experiência de mundo do educação. A escola e o trabalho pedagógico do professor só fazem sentido quando conseguem elevar culturalmente o mundo do educando. Tal elevação não ocorre sem conflito e até mesmo sem sofrimento. Fonte: Rádio Planalto

Postar um comentário

0 Comentários