Por Dorjival Silva
Punir os filhos com tapas, chineladas ou puxões de orelhas é um hábito considerado cultural em nossa sociedade. Apesar de já ter sido condenado por inúmeros profissionais que lidam com a infância, como colegas pedagogos e psicólogos, essa realidade ainda acontece em muitos lares.Um estudo realizado pelo Instituto Promundo, uma organização não-governamental brasileira, ouviu pais e crianças para compreender melhor como eles veem o fenômeno dos castigos físicos e humilhantes.
O trabalho denominado Crianças Sujeitos de Direitos apontou que as crianças relataram como piores castigos a palmada no braço; ficar de castigo no banheiro; ficar de castigo no quarto; tapa na cabeça; paulada; puxão de orelha e chinelada. Já cerca de 63% dos entrevistados afirmaram também que "crianças que não apanham ficam sem limites".
Apesar de a população estar mais esclarecida quanto à diferença entre punir e educar, muitos pais continuam agredindo seus filhos. O número de casos em que os pais agridem os filhos não tem diminuído, ao contrário disso, ainda é muito grande. Hoje com os órgãos de denúncia fica ainda mais fácil tomar conhecimento desses casos.
Durante a pesquisa, as crianças entrevistadas admitiram sentir medo, tristeza e raiva quando eram submetidas a esse tipo de punição. Os profissionais que participaram do trabalho também notaram a presença de sensações como rejeição, menosprezo e marginalização. Elas relataram humilhação e impotência pelo fato de não poderem revidar o que foi sofrido.
Existem duas consequências principais desse tipo de agressão. A primeira é física, muitas machucam, deixam marcas e até deformam as crianças. A segunda consequência é psicológica e emocional; as crianças ficam com pavor, medo, pânico do agressor, pai ou mãe. Não existe uma relação de carinho entre essa criança e quem agride. Como consequência disso, a criança pode ter depressão, baixa autoestima e baixo rendimento escolar.
Em outro relato das crianças, elas contam se sentirem ressentidas nos momentos em que sentem que seus pais não os escutam nem levam seus desejos em consideração. Há também uma carência por mais demonstrações de afeto e uma escuta atenta por parte de pai e mãe. Os pais acreditam que a criança é uma propriedade; eles se aproveitam que a criança é um ser indefeso e usam como propriedade. A melhor forma para educar os filhos ainda é o diálogo.
Para os pais existem outras alternativas de punir os filhos sem coerção física ou psicológica. Quando percebe-se uma criança mau comportada, chama-se a família, pois muitas vezes isso é reflexo do que acontece em casa. Primeiro, os pais devem conversar e mostrar por que ela está errada e não deve agir desta forma. Se essa atitude não surtir efeitos no comportamento do filho, os pais devem buscar outros métodos.
Se o filho gosta muito de jogar videogame, mas não está correspondendo com as notas ou no comportamento, os pais devem proibir o jogo até que ele dê uma resposta positiva. Mas, é claro, que tudo isso deve ser feito de forma justificada, dizendo ao filho que ele não está cumprindo com sua parte. Ele precisa sempre de um porquê. No caso de crianças, os pais devem conversar com elas na mesma linha do seu olhar; você deve se abaixar e conversar com elas. Essa é a melhor forma de conseguir resultados.
As próprias crianças que participaram da pesquisa deram como alternativa para substituir os castigos físicos o pedido para que elas não repetissem mais o comportamento que desagradou os pais. Segundo relatou a pesquisa, o castigo físico, quando aplicado por um longo período, não surte mais o efeito desejado pelos adultos, ou seja, o comportamento infantil indesejado segue acontecendo. O que as crianças afirmam é que não lembram o motivo pelo qual foram castigadas.
Os pais e mães ouvidos na pesquisa acreditam que estão batendo para educar, mas se esquecem que estão utilizando a mesma justificativa para conter ou punir a violência das crianças quando estas apresentam comportamento agressivo.Essa contribuição negativa reforça a ideia de que a violência é um método educacional aceitável e a constante exposição à agressão faz com que os pequenos recorram mais facilmente a ela no trato com as outras pessoas.
DORJIVAL SILVA - Jornalista, Teólogo e Pedagogo. Especialista em Pedagogia Empresarial. Professor de Filosofia e Pedagogia em Tangará da Serra - MT.
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