DO IG
Dados do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) apontam que durante a campanha de 2014, 20 candidatos a
governos estaduais admitiram que pagaram R$ 23,4 milhões em “atividades de
militância”. Os gastos declarados equivalem a 8% dos R$ 288 milhões que esses
candidatos custearam na campanha de 2014. Ao todo, os candidatos admitiram que
pagaram pelo serviço de 32.154 militantes em todo o Brasil.
Os dados tomam como base a
prestação de contas entregues à Justiça Eleitoral pelos candidatos. O PMDB foi
o partido que mais se utilizou deste serviço: quatro candidatos pemedebistas
pagaram por serviços de militância. Três candidatos ao governo do PT e outros
três do PSDB também declararam gastos do gênero. PSB e PSD tiveram,
respectivamente, dois candidatos que custearam serviços de militância. Na lista
de partidos que oficialmente pagaram por esses cabos eleitorais estão legendas
como Solidariedade, PSC, PHS, PPL, PMN e o PTB.
Os custos para cada militante
variam em cada lugar do país. As diárias oscilam entre R$ 30 e R$ 100, conforme
o iG apurou junto a algumas coordenações de campanha. Os estados do Norte e
Nordeste pagaram os menores valores, enquanto no Sul e Sudeste o custo é mais
alto. Nem todo militante trabalhou durante os três meses de campanha. Existiram
casos que foram recrutados apenas para eventos específicos, finais de semana ou
em grandes atos políticos. Os militantes que mais lucraram nas eleições
ganharam em torno de R$ 2 mil durante toda a campanha. Já os coordenadores de
militantes chegaram a tirar cerca de R$ 8 mil. Em média, as campanhas gastaram
R$ 729 para cada militante durante o processo eleitoral.
Quem é um militante pago tem como
função segurar bandeiras em semáforos ou comícios, entregar panfletos a
eleitores. Um trabalho semelhante ao utilizado pelas empresas de publicidade.
Nos grandes eventos, esses militantes servem para “dar volume” aos comícios e
“fazer claque” aos candidatos. Nem todos os militantes, necessariamente, são
eleitores dos candidatos que eles representam.
Mas o volume de gastos com esse
tipo de serviço, conforme algumas coordenações de campanha ouvidas pelo iG,
tende a ser maior. Isso porque a militância paga ainda é vista como tabu por
algumas campanhas, que preferem descrever esse tipo de gasto como “gasto com
pessoal” ou “serviços prestados por terceiros”. Estas discriminações de gastos
incluem não somente o pagamento de assessores, como de outros funcionários da
campanha e os próprios militantes.
Lanche
Do outro lado, algumas
coordenações de campanha contatadas pelo iG afirmaram, em caráter reservado,
que os custos de militância não necessariamente refletem o “pagamento de
ativistas políticos”. Mesmo sem identificar claramente os gastos, algumas
coordenações falam que esses valores equivalem a uma “ajuda de custo” com
lanches, transporte e água para as pessoas que carregam bandeiras ou distribuem
material de campanha em todo o país.
Um exemplo: na campanha ao
governo de São Paulo, nem o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), nem
atual governador Geraldo Alckmin (PSDB) ou do presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), admitiram gastos
em militância. Padilha, por exemplo, registrou o pagamento de 251 pessoas em
sua campanha a título de “despesas com pessoal”; Skaf pagou 473 pessoas a
título de “serviços prestados por terceiros” e Alckmin preferiu apenas declarar
na prestação de contas “baixa de recursos estimáveis em dinheiro”, dificultando
o rastreamento do destino final dos recursos de campanha.
Conforme dados do TSE tabulados
pelo iG, o governador reeleito no Paraná, Beto Richa, teve o maior gasto
declarado com militância em todo o Brasil. O tucano gastou R$ 11 milhões com a
contratação de 12 mil militantes, valor correspondente a 37% do volume total de
custos de sua campanha. O senador Armando Monteiro (PTB), candidato derrotado
ao governo de Pernambuco, é o segundo com o maior tipo de gasto do gênero: R$ 3
milhões com a contratação de 5 mil militantes. O adversário de Richa pelo
governo do Paraná, o senador Roberto Requião (PMDB), aparece em terceiro nesta
lista: R$ 2,9 milhões gastos com o custeio de 3,7 mil ativistas.
Entre os dez candidatos com os
maiores gastos em militância em todo o país, apenas três conseguiram se eleger:
Richa; Paulo Câmara (PSB) em Pernambuco e Marcelo Miranda (PMDB), em Tocantins.
Câmara gastou R$ 509 mil com ativistas políticos e Miranda, R$ 467 mil.
Ficha-suja
Na disputa pelo governo do Mato
Grosso, o candidato do PSD, deputado estadual José Riva, gastou R$ 1,9 milhões
com 4,3 mil ativistas políticos. No entanto, ele teve seu registro de
candidatura cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não pode concorrer
ao governo. Sua esposa, Janete Riva, que herdou o seu lugar na disputa, foi
obrigada a arcar mais R$ 1,1 milhão com a contratação de 2 mil militantes.
José Riva é considerado o maior
“ficha-suja” do Brasil por responder a mais de 180 processos por improbidade
administrativa e outras 21 ações penais por crimes como peculato e lavagem de
dinheiro. Proporcionalmente, 36% dos custos de campanha de José Riva e 31% dos
gastos de Janete, foram com o pagamento de militantes.
O PT, que costuma exaltar a
capacidade de mobilizar sua militância, também recorreu ao serviço. Os
candidatos Rui Costa (PT-BA), Roberto Carlos (PT-ES) e Fernando Pimentel
(PT-MG), por exemplo, admitiram que pagaram por esse tipo de atividade. Costa
arcou R$ 58,9 mil com este serviço; Carlos, R$ 40,4 mil e Pimentel, R$ 354.
Costa pagou por atividades de militância a 95 pessoas; Carlos, a 13 pessoas, e
Pimentel, a duas.
O senador Armando Monteiro
afirmou que os gastos em militância são necessários e que, não necessariamente,
refletem a falta de militantes nos Estados ou nos partidos. “Hoje, as pessoas
que atuam em todas as campanhas têm uma remuneração mínima para que possam
fazer as suas despesas”, disse. “O meu partido tem militantes. Agora, há uma
militância que tem uma condição social melhor, que arca com as despesas e
custos. Mas a grande maioria precisa efetivamente de alguma remuneração para
fazer face às suas despesas”, analisa o senador. “Como não era candidato das
máquinas, o pessoal todo a gente teve que recrutar e declarar os gastos de
todos”, afirmou o candidato derrotado por Paulo Câmara (PSB).
O iG também procurou as campanhas
de Beto Richa e Roberto Requião, para falar sobre o assunto, mas não obteve
retorno. No entanto, fontes do PSDB paranaense apontaram que os gastos em
militância de Richa como algo rotineiro, mas necessário frente a uma “campanha
extremamente dura no Estado”. O iG também não conseguiu contato com as
campanhas de José e Janete Riva.
Os maiores gastos com militância
paga no País:
Candidato Custo com militância
Beto Richa (PSDB-PR) R$
11.014.844,58
Armando Monteiro (PTB-PE) R$
3.054.731,58
Roberto Requião (PMDB-PR) R$
2.939.599,61
José Riva (PSD-MT) R$
1.987.991,37
Janete Riva (PSD-MT) R$
1.187.954,23
Eliane Novais (PSB-CE) R$
755.337,00
Sandoval Cardoso (SD-TO) R$
649.446,00
Paulo Câmara (PSB-PE) R$
509.436,00
Marcelo Miranda (PMDB-TO) R$
467.300,00
Vital do Rego (PMDB-PB) R$ 322.824,00
Militantes contratados no País:
32.154
Média por militante: R$ 729
Maiores gastos proporcionais em
militância:
Beto Richa: 37,1% do custo total
da campanha
José Riva: 36% do custo total da
campanha
Janete Riva: 31% do custo total
da campanha
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