Uma fazenda utilizada para pesquisa científica, no município de
Cotriguaçu (944 km a noroeste de Cuiabá), tem sido invadida por grileiros de
terra para extração ilegal de madeira. As propriedades do município são as
últimas do Estado com bolsões de floresta Amazônica, porém se tornaram alvo
constante dos criminosos ambientais.
A Fazenda São Nicolau é sede de Projeto Poço de Carbono Florestal
Peugeot-ONF, que há mais de 15 anos tem a área para realizar pesquisas. A
fazenda conta com parecerias diversas universidades do Estado e de outros
países.
De acordo com Cleide Arruda, engenheira florestal e gestora do ONF
Brasil (Escritório Nacional de Florestas), a fazenda tem 10 mil hectares e é
utilizada para recuperação ambiental, pesquisa científica e formação acadêmica.
Segundo Cleide, a propriedade faz divisa com a MT-208 e é por ali
que os criminosos têm invadido a área. O grupo já teria aberto uma clareira e
extraído diversas árvores nativas ao lado da fazenda. Dentro da fazenda, o
mesmo grupo teria aberto, ao menos, 13 picadas de 100 em 100 metros.
“Encontramos algumas picadas em meio à área de Manejo Florestal do
Projeto e percebemos que um grupo de pessoas não identificadas realizou a
derrubada de uma área de floresta vizinha à propriedade”.
Conforme a gestora, os grileiros têm aberto as picadas aos finais
de semana e durante a noite, para não chamar a atenção. Cleide afirmou que já
elaborou um boletim de ocorrência e comunicou todos os órgãos ambientais
possíveis.
“O problema é que a própria polícia nos comunicou que diversas
fazendas e áreas de preservação da região foram invadidas recentemente, mas o
efetivo dos polícias é muito baixo e não dá conta de investigar todos os
casos”.
O número de policias é tão diminuto na região que a ocorrência foi
atendia pela guarnição de Aripuanã, 240 quilômetros do município.
PESQUISA - Segundo Roberto Silveira, professor da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT), responsável por parte das pesquisas realizadas
na fazenda, o poço de carbono é um conceito que nasceu em 1998, na assinatura
do Protocolo de Kyoto, para combater o efeito estufa.
Silveira explicou que ONF é uma estatal francesa encarregada pela
gestão das florestas do Estado e das florestas das coletividades
descentralizadas. Segundo ele, a ONF é um dos mais importantes gestores de
florestas públicas do mundo.
“Há mais de 15 anos é realizada a medição de carbono de floresta
virgem e aproximadamente 2 milhões de árvores nativas também foram plantadas na
região para que pudéssemos estudar o efeito. Um trabalho como este é encontrado
em pouquíssimos lugares no mundo. No Brasil mesmo não passam de cinco. Para se
entender o efeito estufa e outros impactos ambientais no mundo, ele é
primordial”.
Conforme o professor, a fazenda também é utilizada para diversas
pesquisas sobre biodiversidade e duas novas espécies de animais já foram
encontradas e catalogadas no local. “A região sul da Amazônia é uma das menos
conhecidas que temos, é uma lacuna do conhecimento, por isso a importância da
fazenda”.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, nenhum crime ainda
foi constatado no local. A administração da fazenda já teria entrado com um
pedido de reintegração de posse na Justiça, caso ele seja aprovado, a força
policial atuará no serviço.
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