SÍLVIA DEVAUX
A juíza Selma Rosane Santos Arruda, da Vara Especializada contra o
Crime Organizado, afirmou, na decisão que decretou a prisão preventiva do
ex-deputado estadual José Riva, que ele "é um ícone da corrupção em nosso
Estado".
“Ora, como bem assinalou o Ministério Público, o réu é um ícone da
corrupção em nosso Estado, mas acrescento: também é um ícone de impunidade, um
verdadeiro mau exemplo a todos os cidadãos de bem que pagam os seus impostos,
trabalham diuturnamente e não cometem delitos, porque temem as consequências”,
disse a juíza, assinalando que pesam contra ele centenas de ações penais contra
a Administração Pública.
Ainda segundo a magistrada, a prisão foi importante por entender
que ele representa perigo dada às circunstancias em que teria cometido os
crimes.
“Entendo que é necessário que o réu responda ao processo sob a
custódia estatal, para que sua liberdade precoce não sirva de estimulo para que
outros pratiquem crimes desta natureza, achando que sairão impunes, pondo em
xeque a própria credibilidade da Justiça e dos demais órgãos do Estado
encarregados de manter a ordem e a paz social”, preferiu a juíza.
Líder de organização criminosa
José Riva é apontado pelo MP como líder de uma organização
criminosa constituída com o desiderato de praticar crimes contra a
Administração Pública, especialmente peculato, além de lavagem de dinheiro.
Conforme a juíza, constam na denúncia “bastante extensa” uma série de indícios
em documentos, fotografias, depoimentos e pericias; inclusive de materiais
oriundos de quebra de sigilo fiscal e bancário determinada pela Justiça.
Ainda conforme a decisão, mesmo após perder o cargo público, Riva
poderia continuar praticando os crimes devido à influência de relacionamentos
desses 20 anos de vida pública; a destruição de inúmeros documentos sob
pretexto de norma interna da Assembleia Legislativa que teria dificultado a
investigação e o cumprimento das ordens judiciais na Casa; e as dificuldades que
a nova Mesa Diretora está tendo em localizar documentos, significando que ele
não medirá esforços para ocultar e falsificar qualquer documentação, além de
fazer pressão sobre as testemunhas arroladas.
Os indícios do envolvimento de Riva estariam evidenciados, proque
as“negociatas ilícitas só seriam possíveis com sua intervenção e assinatura, já
que ele era o gestor dos recursos financeiros da Assembleia Legislativa”.
Ele é acusado por 26 crimes de peculato em quadrilha, que resultou
em prejuízo ao erário público no montante de mais de R$ 40 milhões, que
atualizada chega a R$ 60 milhões.
ENTENDA O CASO
Um novo esquema de desvio de dinheiro público, liderado pelo ex-
presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, José Riva, foi
desvendado pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).
Desta vez, o ex-deputado foi denunciado por ter desviado mais de R$ 60 milhões
dos cofres públicos com falsas aquisições envolvendo cinco empresas do ramo de
papelaria, todas de “fachada”.
Para se ter uma ideia, em apenas um ano essas empresas venderam
mais de 30 mil toners à Assembleia Legislativa que, na época dos fatos, contava
com apenas 150 impressoras.
A prática reiterada e a gravidade dos crimes praticados foram os
principais argumentos apresentados pelo Gaeco para garantir a prisão preventiva
do ex-parlamentar, cujo mandado foi cumprido neste sábado. Além dele, foram
denunciados a sua esposa, Janete Riva, servidores públicos e empresários. São
eles: Djalma Ermenegildo, Edson José Menezes, Manoel Theodoro dos Santos, Djan
da Luz Clivatti, Elias Abrão Nassarden Junior, Jean Carlo Leite Nassarden,
Leonardo Maia Pinheiro, Elias Abrão Nassarden, Tarcila Maria da Silva Guedes,
Clarice Pereira Leite Nassarden, Celi Izabel de Jesus, Luzimar Ribeiro Borges e
Jeanny Laura Leite Nassarden.
Consta na denúncia, que a organização criminosa fraudou, nos
últimos anos, a execução de contratos licitatórios na modalidade carta convite,
pregão presencial e concorrência pública, visando a aquisição simulada de
material de expediente, de consumo e artigos de informática. Durante as
investigações, foi constatado que os materiais adquiridos não foram entregues,
embora servidores tenham atestado as notas de recebimento e a Assembleia
Legislativa tenha efetuado os pagamentos.
Informações obtidas por meio de quebras de sigilo bancário e
interceptações, todas autorizadas pelo Poder Judiciário, entre outras
diligências, comprovam que aproximadamente 80% do dinheiro desviado foi sacado
na boca do caixa e repassado ao ex-deputado, que na época dos fatos era o
primeiro secretário do Parlamento Estadual. Na ocasião, o cargo de secretária
de Patrimônio era ocupada por Janete Riva.
“O dinheiro desviado por intermédio do estratagema apresentado
transitava nas contas bancárias das pessoas jurídicas “fornecedoras” do
material apenas para ocultar o seu retorno para as mãos de José Geraldo Riva, o
que se fazia por intermédio do falecido Ademar Adams. Tanto é que 80% do
montante depositado pelo Poder Público nas contas das empresas sob escusa de
pagamento por produtos e serviços supostamente executados/entregados, foi
sacado na boca do caixa”, diz um trecho da denúncia.
As cinco empresas envolvidas no esquema são: Livropel Comércio e
Representações e Serviços Ltda, Hexa Comércio e Serviços de Informática Ltda,
Amplo Comércio de Serviços e Representações Ltda, Real Comércio e Serviços
Ltda-ME e Servag Representações e Serviços Ltda.
Conforme a denúncia, José Geraldo Riva responderá pelos crimes de
formação de quadrilha e 26 peculatos, em concurso material.
PRISÃO: Segundo o Gaeco, o ex-parlamentar foi preso neste sábado,
por volta das 14h, em sua residência e não apresentou resistência. A operação
contou com a participação de 10 homens e quatro viaturas. O Gaeco é formado
atualmente pelo Ministério Público Estadual, Polícia Judiciária Civil e Polícia
Militar.
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