LISLAINE DOS
ANJOS
Institutos como o Concluir assumiram contratos milionários com o Estado, na gestão anterior |
O empresário
Paulo César Lemes é apontado, pelos promotores do Grupo de Atuação Especial
Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Estadual, como o chefe
do suposto esquema que teria desviado mais de R$ 8 milhões da Secretaria de
Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas), ao longo dos anos de 2012 e
2013.
Conforme
apontam as investigações da Operação Arqueiro, deflagrada em abril do ano
passado, Lemes é o real proprietário dos "falsos" institutos de
Desenvolvimento humano (IDH), de Desenvolvimento Profissional do Brasil
(Indesp) e Concluir, que seriam sem fins lucrativos.
Tais
institutos assumiram contratos milionários com o Governo do Estado naquele
período.
Segundo o
Gaeco, Lemes formou uma verdadeira “organização criminosa”, que contava com o
apoio de sua esposa, Joeldes Lazzari Lemes, “testas de ferro”, parentes,
funcionários públicos e empresários para “firmar convênios fraudulentos com a
administração pública”, por meio dos falsos institutos já citados, “com o
objetivo final de desviar dinheiro público”.
"Com
efeito, Paulo César Lemes e seus seguidores, considerando que seu plano era
perfeito e nunca seria descoberto, para aferir lucro de seus institutos de
fachada, além das outras formas de lucro ilícito por ele obtidas por intermédio
de empresários parceiros do crime, emitiu várias notas por suas próprias
empresas comerciais para sangrar o dinheiro público que lhe vinham as mãos por
meio daquelas entidades filantrópicas de araque" “Utilizando-se desses
institutos sem fins lucrativos de fachada, o empresário denunciado Paulo César
Lemes e sua esposa Joeldes Lazzari Lemes associaram-se de forma estável e
permanente com os demais denunciados, incluindo funcionários públicos, formando
uma estrutura ordenada e escalonada e com divisão de tarefas, com a finalidade
específica de firmar convênios e contratos com a administração pública mediante
documentos ideologicamente falsos, fraudar licitações e praticar crimes de
corrupção, com o objetivo final de desviar dinheiro público (peculato) advindo
dos convênios firmados com Setas (Secretaria de Trabalho e Assistência
Social)”, diz o Gaeco, na denúncia.
Início do
esquema
Franqueado
da Microlins na Grande Cuiabá – rede com fins lucrativos que visa à prestação
de cursos profissionalizantes –, o empresário Paulo Lemes passou a criar os
falsos institutos em 2011, uma vez que não poderia utilizar a empresa comercial
que detinha para entabular convênios com o Estado.
Naquele ano,
Lemes se apropriou de uma igreja denominada “Vida Nova”, transformando-a na
Indesp. ]]
Na sequência,
ele também passou a deter duas associações – Desafio Jovem Vida Nova, destinada
à recuperação de dependentes químicos, e Projeto Vida, destinada à preservação
e à recuperação ambiental –, que passaram a se chamar Institutos Concluir e
IDH, respectivamente.
Conforme
consta na denúncia, ele colocou parentes, sócios e empregados da Microlins como
membros “laranjas” das diretorias dos três institutos.
Para dar
mais veracidade à fraude, o empresário decidiu, segundo a denúncia do Gaeco,
desativar duas unidades da Microlins que não mais lhe davam lucros - uma no
Coxipó e uma no Cristo Rei –, para que os imóveis fossem usados como sedes de
falsos institutos sem fins lucrativos Concluir e IDH, respectivamente.
A unidade da
Microlins no bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, por sua vez, passou a se
chamar Mathice e teve o endereço transferido para o bairro Boa Esperança, em
Cuiabá, “sendo praticamente um quartel general onde se organizava e armazenava
importantes documentos comprobatórios das fraudes”.
O Indesp,
por sua vez, passou a funcionar no endereço de seu presidente “laranja”,
Ricardo Mário Ceccarelli – ex-membro da diretoria da Associação Projeto Vida
(transformado em IDH) –, que teria cedido a entidade a Lemes com a promessa de
conseguir acordos milionários do Indesp com a Setas, o que de fato conseguiu.
Com todo o
esquema montado, Lemes, então, teria agido em conluio com funcionários públicos
da Setas – inclusive, com pagamento de propina –, tais quais os ex-secretários
Jean Estevan Campos Oliveira (adjunto e substituto) Roseli de Fátima Meira
Barbosa (titular da pasta, à época) e Vanessa Rosin Figueiredo (adjunta); o
assessor especial e ordenador de despesas Rodrigo de Marchi e responsável pelo
cadastro de entidades na Setas, Rosamaria Ferreira de Carvalho.
Contratos
milionários
Ao todo,
Paulo Lemes conseguiu, por meio dos institutos IDH e Concluir, “abocanhar” pelo
menos seis contratos junto à Setas, para a disponibilização de cursos do
“Qualifica MT” (fases VII e VIII) e “Copa em Ação” (Fase I e II, em Cuiabá e
Várzea Grande), diagnóstico do trabalho Infantil no Estado e serviços prestados
ao Lar da Criança.
MidiaNews
Em apostilas
elaboradas pelos institutos de Lemes, municípios era ridicularizados; caso
despertou a atenção do Gaeco
No entanto,
até mesmo a qualidade dos serviços prestados é questionada, uma vez que erros
grotescos em apostilas utilizadas em um dos cursos oferecidos motivaram as
investigações do Gaeco, inicialmente.
O total
conquistado com os contratos é de R$ R$8.173.599,30, “dinheiro esse proveniente
de emissão de notas fiscais frias emitidas por suas empresas comerciais,
mormente pela Mathice, para os Institutos de fachada de que também era
proprietário de fato e usava laranjas para encobertar a fraude conforme
amplamente demonstrado nessa denúncia”.
“Com efeito,
Paulo César Lemes e seus seguidores, considerando que seu plano era perfeito e
nunca seria descoberto, para aferir lucro de seus institutos de fachada, além
das outras formas de lucro ilícito por ele obtidas por intermédio de
empresários parceiros do crime, emitiu várias notas por suas próprias empresas
comerciais para sangrar o dinheiro público que lhe vinham as mãos por meio
daquelas entidades filantrópicas de araque”, diz trecho da denúncia.
Segundo o
MPE, somando a esses contratos os acordos celebrados por Lemes – por meio da
Microlins – com o Estado, os institutos de Lemes receberam quase R$ 20 milhões
para a execução de programas sociais.
Acusações
Na ação, o
MPE acusa o grupo formado por Lemes e outros 32 denunciados de constituição de
organização criminosa, corrupção, peculato, lavagem de dinheiro, uso de
documento falso, entre outros.
Os
promotores solicitam, ainda, a condenação do grupo por dano moral coletivo, a
suspensão de pagamentos de contratos firmados entre as empresas e a Setas, a
proibição de celebração de novos contratos com o Estado, a indisponibilidade de
bens e o afastamento dos sigilos bancário e fiscal dos denunciados e a devolução
dos valores subtraídos.
Conforme a
ação, os crimes imputados são de constituição de organização criminosa,
corrupção, peculato, lavagem de dinheiro, uso de documento falso e outros.
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